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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Economia além da frieza dos números

O ‘nudge’ vem evidenciar a diferença entre economia e finanças. Para muitos a ciência económica mais não é do que ‘frios’ números num balanço empresarial ou nas contas públicas de um país. Em boa verdade é isso e muito mais. A economia é muito mais abrangente do que a maioria de nós julga. A economia é finanças, mas finanças alicerçadas no ‘Ótimo de Pareto’. A economia não é uma soma nula, e o crescimento das minhas contas pessoais, da minha empresa ou do meu país, culminam também em mais crescimento de outras empresas e de outras economias. Todos contribuímos para o bem-estar global até ao ponto em que um de nós (agente económico, empresa ou país) para continuar a crescer isoladamente, e da forma como o faz, obrigatoriamente prejudicará outro. Com ‘nudges’ a apelarem gradualmente para um planeta mais sustentável e para políticas baseadas no ESG (Environmental, Social and Governance), a economia crescerá e o bem-estar das populações, objeto da economia, será cada vez mais elevado. O ‘nudge’ é o elemento agregador e fundamental para um mundo melhor, baseado na maximização do bem-estar através de mais tecnologia, mais emprego, mais energias renováveis, mais cuidados de saúde, nomeadamente para idosos. O ‘nudge’, acrescenta à ciência económica várias dimensões que vão para além da frieza dos números e das finanças.

O conceito “poupe mais amanhã” tem funcionado porque pede às pessoas que façam um compromisso de poupança no futuro, ao invés do consumo imediato, nomeadamente quando tiverem aumentos salariais. A nossa tendência é de valorizar mais as recompensas imediatas em detrimento dos objetivos de longo prazo. Quando se trata de decisões financeiras, a nossa ‘inclinação para valorizar o presente’ pode ter um efeito indesejável. Gastar excessivamente hoje pode reduzir significativamente, e colocar em causa, as nossas poupanças para o futuro. Imaginemos a nossa postura de poupança para a aposentação: é normal que no início das nossas carreiras profissionais, economizar dinheiro para a nossa velhice nos prive de umas férias mais divertidas ou de usufruirmos de mais bens e serviços, por vezes supérfluos. Além disso, nada nos garante que chegaremos a velhos e, por essa razão, é normal que haja uma maior propensão para consumirmos do que para pouparmos.

O nível das taxas de juro dependerá das nossas preferências temporais, e vice-versa. Adiar o consumo depende, em boa parte, do nível das taxas de juro, mas também das benesses dos sistemas de pensões de cada país e de cada economia. Quanto mais elevadas forem as taxas de juro reais, maior será a propensão a poupar, mas o preço do crédito concedido a quem opta por antecipar o consumo será gradualmente mais elevado e desincentivará o investimento, o consumo e, consequentemente, redundará em menor crescimento económico. Acelerar novamente a atividade económica, implica reequilíbrio do mercado monetário, queda das taxas de juro, e, consequentemente, desincentivo à poupança e promoção do investimento e do crescimento económico. Este é o ciclo do crédito e da poupança, entre quem adia e quem antecipa o consumo, e do sobe e desce dos seus preços, ou seja, das taxas de juro.

Porém, quanto mais esperarmos para começarmos a poupar, mais difícil será atingirmos os objetivos de constituição de um cabal ‘pé de meia’, daí a importância do ‘nudging’ no setor financeiro para incentivar as populações, indiretamente, à poupança, independentemente da taxa de juro. Ao contrário das teorias clássicas que assumem um homo economicus (agente económico racional), a teoria ‘nudge’ apresenta um ser humano “normal”, que pode ser “míope” ou “impulsivo”, atribuindo um peso incorreto a resultados de curto prazo [e a procrastinar, adiar e nada fazer] ou então ser um otimista desfasado da realidade. Um agente económico muito mais emocional que racional…  “Infelizmente, quando o sábio aponta para o céu, o tolo olha para o dedo”. Todavia, o nudge procura corrigir processos e comportamentos, alertando a nossa mente para o essencial em detrimento de atitudes e pensamentos enviesados.


Paulo Monteiro Rosa, 6 de agosto 2021 In Vida Económica





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.