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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Fará setembro jus à tendência secular?

Estatisticamente setembro é o mês com pior desempenho no ano. Esta semana o mercado corrigiu, ainda que ligeiramente. Será um prenúncio, um alerta?


As políticas monetárias energicamente expansionistas da Reserva Federal dos EUA (Fed) e do Banco Central Europeu (BCE), a par dos resultados empresariais melhores do que as expectativas, têm suportado os mercados acionistas e conseguido manter as ações alheadas de quaisquer notícias menos favoráveis, tais como a variante delta, a regulação chinesa, a crise no Afeganistão, a atual época de furacões, o ‘debt ceiling’, a subida da inflação e os rácios acima do normal do valor das empresas em bolsa em relação aos seus lucros. Porém, paulatinamente, a subida da inflação tem afastado vozes mais ‘dovish’ e atraído gradualmente membros da Fed e do BCE com uma postura mais ‘hawkish’, apologistas da reversão da atual política monetária acomodatícia. Poderá este cenário de ‘tapering’ ou abrandamento das compras de ativos espoletar uma correção dos mercados? O S&P 500 sobe há 7 meses consecutivos, mas em setembro do ano passado acumulou uma perda de 4%.

Na quinta-feira, o BCE desacelerou o programa de estímulo à pandemia (PEPP), mas insistiu em não diminuir o valor total de 1,85 biliões de euros. O montante de compra de ativos do BCE, ao abrigo do PEPP, provavelmente passará a ser agora de 60 mil milhões a 70 mil milhões de euros por mês, baixando dos anteriores 80 mil milhões. A par do programa de compras pandémicas (PEPP), existe o programa de compra de ativos (APP) do BCE anterior à pandemia, no montante mensal de 20 mil milhões de euros. No próximo ano, à medida que abranda o PEPP, fixado para terminar em março de 2022, o BCE poderá aumentar o APP para suportar a economia da Zona Euro.
Apesar do BCE ter revisto o crescimento económico do bloco europeu que partilha a moeda única em alta pela segunda vez este ano, para 5%, os atuais níveis de inflação na Zona Euro são cerca de metade do aumento de preços verificado nos EUA e o crescimento económico está aquém do verificado na maior economia do mundo. Todavia, a tolerância do BCE face ao nível de inflação é menor do que a flexibilidade da Fed.

O BCE efetivamente elevou a sua meta de inflação de “abaixo, mas perto de 2%” para uma meta simétrica de 2% no médio prazo, o que permite que os preços no consumidor superem os 2% quando necessário, mas não é desejável que tal aconteça, bem como não é recomendável preços abaixo de 2%. No entanto, a Fed é mais flexível, menos preocupada com a inflação e mais comprometida com o pleno emprego, referiu o ano passado, em agosto, que permitirá que a inflação ultrapasse os 2% para compensar anos de deflação ou preços abaixo dos 2%, como forma de impulsionar o mercado de trabalho e a recuperação económica.

Por último, e não de somenos, o atual limite ao endividamento do tesouro dos EUA nos 28,5 biliões de dólares, idêntico ao total da dívida, não permite novas emissões de dívida sem existirem amortizações. O financiamento da despesa do governo dos EUA ou se faz com mais receita de impostos ou com um incumprimento dos EUA que seria deveras nefasto para a economia norte-americana. São necessários 60 senadores para aprovar um aumento do ‘debt ceiling’, mas 46 senadores republicanos disseram que não votam a favor. Setembro é tranquilo porque é um mês de pagamento de impostos das empresas e pessoas singulares, mas o mês de outubro não augura nada de bom…  


Euro/dólar
O dólar recuperou parte das perdas das últimas semanas relativamente ao euro. A descida dos pedidos de subsídio de desemprego semanais nos EUA para o mínimo dos últimos 18 meses, mostraram a recuperação do mercado de trabalho norte-americano e impulsionaram o dólar, depois dos dados fracos do relatório do emprego referente a agosto na semana. A correção dos mercados acionistas esta semana impulsionou a procura de um porto seguro pelos investidores, favorecendo o dólar, um dos principais ativos de refúgio. A subida dos rendimentos do tesouro norte-americano também aumentaram a atratividade da moeda norte-americana, apesar do BCE ter revisto em alta o PIB, pela segunda vez, para 5%. Desde o início de julho, o EUR/USD tem negociado, em boa parte do período, no intervalo 1,17 a 1,19.

Ouro
O preço do ouro manteve-se, ontem, perto dos mínimos das duas últimas semanas, pressionado por um dólar norte-americano mais forte. O ouro não gera qualquer rendimento, apenas ganhos de capital, e perante uma subida das taxas de juro, nomeadamente dos rendimentos do tesouro norte-americano, aumenta novamente a atratividade do dólar em relação ao ouro. As perspetivas de redução dos estímulos monetários da Fed e do BCE nos próximos meses também poderá retirar algum incentivo à procura do metal amarelo.
Como o ouro é cotado em dólares, a subida da moeda norte-americana, impulsionada pela correção dos mercados e dados macroeconómicos mais favoráveis, acaba por resultar numa desvalorização do ouro.  

Ações
A Lululemon, empresas de roupas desportivas com sede em Vancouver, aumentou a sua orientação (guidance) para o resto do ano, após resultados do segundo trimestre que ultrapassaram as expectativas. Os lucros mais do que duplicaram num aumento de 61% das vendas. A Lululemon espera que os lucros para o ano todo sejam de US $ 7,16 a $ 7,26 por ação e a receita de US $ 6,19 mil milhões a US $ 6,26 mil milhões. A empresa abriu 11 novas lojas no trimestre e possui 534 lojas na sua rede.
A receita da UiPath, a startup da Romênia de automação de processos robóticos que realizou o IPO a 21 de abril, superou as expectativas de Wall Street segundo trimestre, e aumentou a previsão para a receita recorrente neste ano fiscal.




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Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.