Quando até mesmo George Soros avisa que a China está prestes a enfrentar uma
grande crise financeira, escrevendo num artigo do Financial Times que o ‘boom’
imobiliário chinês está a chegar ao fim, é motivo para os investidores se
preocuparem. A seguir à chegada de Xi Jinping ao poder em 2013, Soros esperava
que a par da pujança económica chinesa, o atual presidente encetasse reformas
políticas. Porém, Xi Jinping tem gradualmente endurecido as posições políticas
do Partido Comunista Chinês (PCC). Ao robusto desempenho dos mercados
financeiros chineses de meados de 2014 a meados de 2015, espelhado na
valorização de 125% do índice acionista de Shanghai, seguiu-se uma forte
correção de 35% e um gradual aumento do escrutínio regulatório em 2016, em 2018
e atualmente.
Cresce o risco de incumprimento da Evergrande. De maior empresa imobiliária
chinesa, a Evergrande passou a uma das maiores devedoras da economia chinesa e
tem cerca de 300 mil milhões de dólares em dívida, de acordo com Jennifer James
da Janus Henderson Investors. Não é apenas Soros que alerta para esta ameaça, é
a própria empresa que adverte que corre o risco de não pagar os empréstimos se
não conseguir levantar dinheiro no mercado. É certo que a economia chinesa está
significativamente alavancada, perto de 300%, e Soros salienta que esse número
estará certamente subavaliado, mas as autoridades chinesas pretendem diminuir a
alavancagem e limitar o acesso a mais endividamento do promotor imobiliário
mais endividado do mundo, a Evergrande.
Em boa verdade, a guerra comercial e tecnológica encetada pela administração de
Donald Trump, e seguida pelo recente presidente eleito, Joe Biden, relativamente
à China é uma reação à crescente ameaça chinesa à secular hegemonia
norte-americana, e o gradual endurecimento regulatório chinês às suas empresas
mais não é de que um reflexo da resposta chinesa à crescente tensão entre as
duas maiores economias globais.
É crescente a apreensão dos investidores ocidentais relativamente à exposição a
títulos chineses. As cotações das empresas chinesas nas praças
norte-americanas, através de ADR’s (American Depositary Receipt), têm sido
bastante penalizadas. A compra de ADR’s não é igual à aquisição direta dos
capitais próprios das empresas, facto que aumenta o receio dos investidores.
Além disso, o gradual escrutínio chinês das suas empresas, nomeadamente aquelas
que estão mais expostas a capitais e empresas exteriores, agrava o receio do
investidores, aumenta a perceção de risco e, consequentemente, impulsiona a
queda dos rácios de preço/lucro (PER – Price Earnings Ratio), tal como acontece
na Rússia e outras geografias. Muitas das ações das empresas russas negoceiam
com múltiplos muito baixos, cerca de três ou quatro vezes os lucros,
penalizadas pela perceção de menor liberdade e transparência, entendendo os
investidores que estes títulos são mais arriscados. A China parece trilhar o
mesmo caminho no que concerne à perceção de menor liberdade económica e faz
gradualmente jus à forma de governo ditatorial espelhada no partido único…
Colocar o interesse comum à frente do interesse individual é nivelar por baixo,
é trazer os de cima para baixo. Em boa verdade, garantir a liberdade da
atividade económica é zelar pelo interesse comum. Há um crescente receio em
investir na economia chinesa e as graduais pressões regulatórias agravam esse
fenómeno. Todavia, os planos económicos quinquenais do PCC vão manter a
economia chinesa no caminho do crescimento, mas muito aquém do seu potencial
porque o financiamento é menor, a procura global também e o investimento tende
a desacelerar. Os investidores fogem sempre do interesse comum e procuram
sempre o porto seguro da liberdade económica. Pode a China viver em autarcia?
Claro que pode, tal como os EUA, ao contrário de Portugal. Porém, uma economia
chinesa mais próxima da autarcia crescerá muito menos que uma economia virada
para o mercado externo e o nível de bem estar da população não será tão elevado
como numa aproximação à liberdade económica.
Todavia, a China prepara-se, pela primeira vez, para assumir uma participação
na Ant de Jack Ma…
Paulo Monteiro Rosa, 3 de setembro de 2021 In Vida Económica
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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terça-feira, 7 de setembro de 2021
Quo Vadis, China?
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- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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