O crescente aumento dos preços da energia corroboram uma
crise energética global. A elasticidade do consumo de energia é rígida e o
inverno no hemisfério norte aproxima-se e com ele o frio. Em 1970, a crise
energética culminou num período de estagflação. A atual inflação
temporária caminhará para uma inflação mais persistente? Um período de
inflação mais longo e níveis de preços indesejáveis poderiam ditar uma
antecipação da redução das compras de ativos pela Reserva Federal dos EUA e uma
subida, mais cedo do que esperado, das taxas de juro para mitigarem a subida de
preços. Uma estagflação nos EUA seria, talvez, definida por um crescimento
do PIB à volta dos 3% ou abaixo e uma taxa de inflação de 3% ou acima, medida
pelo PCE ‘core’, talvez o critério mais apropriado para aferir a alteração de
preços devido à atualização mais frequente do seu cabaz de bens e serviços e à
sua cobertura mais abrangente relativamente ao IPC. A subida das taxas de
juro acabaria por intensificar ainda mais uma hipotética estagflação espoletada
por uma crise energética.
O Brent de Londres, referência mundial para dois terços da oferta de petróleo,
atingiu os 80 dólares por barril pela primeira vez desde setembro de 2018 e o
gás natural quadruplicou de preço nos últimos 12 meses, estando aos níveis do
último trimestre de 2008, após o colapso do Lehman Brothers e, consequente,
Grande Recessão. O fenómeno temporário de ‘contango’ do ano passado, reverteu
gradualmente para um salutar ‘backwardation’, mas a inclinação negativa da
curva de futuros do petróleo intensifica-se, num claro sinal de que os
investidores acreditam que a oferta continuará a ser exígua e poderá redundar
em estagflação, ou seja, crescimento anémico acompanhado de inflação.
Na Europa, o megawatt/hora (mwh) de eletricidade negociado na OMIP, MIBEL e EEX
subiu dos 40 euros para cerca de 180 euros. Ou seja, o custo para as
comercializadoras de eletricidade era de € 0,04 o KiloWatt/hora (kwh) até há
alguns meses e atualmente é de € 0,15 a € 0,18/kwh. A subida dos preços das
licenças europeias para emissão de CO2 é um dos principais impulsionadores dos
custos da eletricidade. Por exemplo, as famílias portuguesas pagam cerca de €
0,17 ou € 0,18 kwh, a carga fiscal ronda os 60% e é transversal na Europa, mas
agora os preços agravar-se-ão.
O carvão quadruplicou de preço nos últimos 14 meses e está em níveis recordes.
A diminuição da oferta da China impulsiona o preço do carvão, à medida que o
país promete atingir os padrões de emissões e alcançar a neutralidade de
carbono até 2060.
O que fazer? Uma redução da carga fiscal conseguiria mitigar o problema, mas os
atuais níveis de dívida pública, muito mais elevados que em 1970, são um
entrave a mais endividamento e podem pressionar os juros pelo efeito de
‘crowding-out’. Uma transição energética mais gradual e faseada, abrandando o
seu ritmo de forma a preservar o crescimento económico e o emprego. Algumas
empresas não conseguem acompanhar a subida dos custos e na ausência de escala
ou ‘pricing power’ serão obrigadas a encerrar. O regresso gradual do petróleo
de xisto poderá atenuar a subida dos preços. Reverter o desinvestimento em
energia nuclear seria uma opção?
A falta de energia poderá impulsionar os preços do aço e do alumínio. A
escassez de semicondutores e outros ‘bottlenecks’ pressionam também os custos
das empresas. Crescem as dificuldades para as famílias acompanharem a subida
dos preços da energia e, neste contexto, um aumento substancial dos salários
reforçaria ainda mais a estagflação. Todavia, este é o preço a pagar pela
rápida transição para uma energia mais ‘verde’.
A estagflação ocorre quando uma economia enfrenta alterações repentinas e
significativas na oferta de uma mercadoria ou serviço (choque da oferta), como
um rápido aumento no preço da energia. A produção torna-se mais cara e menos
lucrativa, desacelerando o crescimento económico. Atualmente, a subida é
generalizada a todas as fontes de energia. A estagflação pode ser resultado
também de uma política económica desfasada e imposta muito rapidamente. Por
exemplo, políticas energéticas sem uma gradual e cuidadosa introdução podem
penalizar muito os custos das indústrias e das empresas, e podem resultar num
crescimento económico mais lento e numa inflação mais alta. As crescentes
necessidades ambientais e cumprimento de metas de descarbonização podem
condicionar os preços.
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 1 de outubro de 2021
Crise energética precipita estagflação?
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Economista
- Paulo Monteiro Rosa
- Naturalidade Angolana
- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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