A pandemia acelerou a Quarta Revolução Industrial, apesar de
todos os avanços e recuos no início e durante a fase mais grave e penalizadora
da pandemia e do confinamento. A convergência e a interação entre tecnologias
emergentes, como a robótica, a Inteligência Artificial (AI - Artificial
Intelligence), a ‘Internet das Coisas’ (IoT – Internet of Things), a computação
em nuvem, a computação quântica, a nanotecnologia, entre outras, estão em forte
aceleração imposta pelo distanciamento social, em consequência da pandemia, que
tem impulsionado o teletrabalho, o comércio eletrónico e a crescente
convivência em casa e à distância. Todavia, no início do confinamento, na
primavera do ano passado, as previsões de crescimento das novas tecnologias
foram revistas em baixa. Ao nível da IoT e em resultado das paralisações na
produção, interrupções nas cadeias de abastecimento e escassez de componentes,
a IoT, em 2020, diminuiu 18% em comparação com a previsão pré-covid no final de
2019, segundo a ABI Research. O elevado nível de incerteza em torno da
propagação da covid-19, no ano passado e que ainda hoje persiste, e o
desenvolvimento, produção e distribuição de uma vacina potencial tiveram um
impacto na procura de aplicações da IoT que resultaram em alterações ao nível
das preferências do consumidor.
Muitos projetos empresariais e planos de cidades
inteligentes foram colocados em espera porque as empresas tiveram que lidar com
a desaceleração da economia, e contração global no segundo trimestre de 2020,
determinada pela pandemia, e os governos priorizaram e redirecionaram os seus
orçamentos para responderem à crise sanitária.
No entanto, a disseminação do novo coronavírus impulsionou a
crescente utilização das novas tecnologias. As câmaras de deteção de
temperatura para identificarem potenciais infeções aumentaram substancialmente
e a procura de tecnologias que facilitam o gradual regresso em segurança dos
trabalhadores às empresas é, também, provável que continue a crescer. Muitas
empresas fornecedoras de soluções IoT alteraram rapidamente o seu conceito para
o desenvolvimento de aplicações relacionadas com a covid-19 e dispositivos para
serviços como redes sociais de monitorização do distanciamento.
Atualmente, a utilização da IoT cresce a ritmos crescentes e
acima do previsto antes da pandemia, no final de 2019. Os dispositivos
conectados enquadram-se em três domínios: IoT do consumidor, como ‘smartphones’
e ‘wearables’, IoT empresarial, que inclui fábricas inteligentes e agricultura
de precisão, e IoT de espaços públicos, como seja a gestão de resíduos. Na
medicina, a IoT ajuda a melhorar a saúde através da monitorização remota em
tempo real do paciente, da cirurgia robótica e de dispositivos como inaladores
inteligentes. Atualmente, um ‘smartwatch’ monitoriza o ritmo cardíaco e alerta
o utilizador para alterações graves, ou poderá avisar um centro de
monitorização. Nos últimos 12 meses, o papel da IoT na pandemia de covid-19 foi
determinante. No futuro, o conjunto e a variedade de aplicações de IoT em
potencial é "limitada apenas pela imaginação humana", e isso inclui a
promoção da sua utilização na maior eficiência dos recursos naturais, na
construção de “cidades inteligentes”, melhores e mais justas, e no
desenvolvimento de alternativas energéticas limpas e acessíveis.
A tecnologia 5G, e 6G nos próximos anos, aumenta
significativamente a velocidade de processamento de dados e reduz
substancialmente o tempo de latência, permitindo que estradas inteligentes de
IoT se conectem com carros autónomos, melhorem a segurança do condutor e
otimizem o fluxo de tráfego, reduzindo potencialmente o tempo médio das
deslocações. Os tempos de atendimento de emergência médica também podem ser
reduzidos significativamente. O mapeamento de um crime em tempo real e as
ferramentas ao dispor das forças de segurança também podem ajudar a prevenir o
crime.
Porém, apesar de todos os benefícios, as tecnologias de IoT
levantam também potenciais riscos, tais como questões de segurança e
privacidade, crimes cibernéticos, vigilância no trabalho, em casa ou em espaços
públicos e controle de mobilidade e expressão. Riscos que devem ser acautelados
através da constante atualização da legislação em vigor.
Paulo Monteiro, In Vida Económica, 14 de abril de 2021
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