Por
detrás da criação de nova moeda pelos bancos centrais ou emissão de nova dívida
pelos governos estão somente assinaturas das autoridades competentes. Não
existe um valor intrínseco, uma poupança, um trabalho acumulado nessa nova
“riqueza” que está alicerçada unicamente na fidúcia e na força da lei. Além da
confiança mútua na aceitação da moeda pelos agentes económicos, a legislação
vigente força o curso da moeda e confere ao governo o privilégio de arrecadação
de impostos.
O custo da criação de dinheiro pelos bancos centrais é o imposto inflacionário,
espelhado inicialmente na distorção dos preços dos títulos nos mercados
financeiros e dos valores do imobiliário, e é tanto maior quanto mais
facilmente essa nova moeda criada alcança a economia, impulsiona o consumo no
retalho, origina inflação de preços e cria desigualdades na sua distribuição. Tal
como referiu há três séculos o economista francês Richard Cantillon, a nova moeda
não é neutra quando entra na economia e os grandes bancos, denominados de primary
dealers, são os primeiros a recebê-la. A monetização da dívida pública
através do aumento do endividamento público que é tomado, ainda que
indiretamente, pelos bancos centrais, tem um custo que é o aumento de impostos.
Sucessivos défices públicos e crescente subida da dívida soberana em relação ao
PIB nominal sinalizam impostos diferidos que serão tão mais dilatados no tempo
quanto maior for a capacidade e o vigor da economia subjacente, e a perceção
dos agentes económicos e investidores dessa robustez, que permita acomodar
facilmente a arrecadação de receita fiscal.
O objetivo primordial da MMT é o pleno emprego e os países com um banco central
podem e devem criar moeda para suportar eventuais défices orçamentais
crescentes, e o limite será o aparecimento de inflação. Como tal, todos as suas
despesas poderiam, em princípio, ser financiadas por meio da criação de
dinheiro. Mas a Teoria Quantitativa da Moeda refere que a quantidade de moeda é
igual ao PIB nominal, logo se a nova moeda alcançar a economia e a produção
agregada se mantiver estável, a inflação aparecerá. O PIB per capita japonês há
25 anos era dos mais elevados do mundo, hoje figura em 30º lugar e à paridade
dos poderes de compra em 40º, mas a dívida pública subiu de 40% para 240% do
PIB suportada pela monetização espelhada na subida do balanço do Banco do Japão
(BoJ) que detém grande parte da dívida pública nipónica, todavia a moeda
permaneceu estável, alicerçada num robusto setor exportador.
Adotando a MMT, os Estados podem substituir receitas por mais endividamento e,
assim, reduzir consideravelmente o peso dos impostos que recaem sobre as suas
populações? A diferença fundamental entre as finanças do governo e as das
empresas e famílias não é o acesso a um banco central, mas, em vez disso, o
poder coercivo para aumentar os impostos. Uma empresa com prejuízos não pode
reduzir essa perda impondo impostos sobre todos os outros. Um governo pode. Um
trabalhador que tem um corte salarial não pode forçar os outros a compensarem a
diferença. Um governo pode. Os credores compreensivelmente estão dispostos a
aceitar retornos mais baixos em títulos do governo do que noutros
investimentos. O risco de incumprimento do governo face a um choque económico
adverso é menor. Mas os países emergentes recorrem frequentemente à
desvalorização, incumprimento ou inflação e os custos de empréstimos são mais
elevados. E se os bancos centrais fossem retirados dos banqueiros não eleitos e
entregues a representantes fiscais eleitos? Para muitos políticos, o objetivo
principal é permanecer no poder… A inflação e os impostos são, em muitos
aspetos, simplesmente duas faces da mesma moeda. Os governos sem acesso às
receitas fiscais podem, em vez disso, desvalorizar a moeda.
Paulo Rosa, Jornal de Negócios, 7 de dezembro 2020
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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