O crescimento económico projetado de 5,5% em 2022 na Proposta de Orçamento do
Estado para 2022 (POE 2022) mostra um executivo mais otimista que os principais
organismos internacionais, nomeadamente o FMI que estima um crescimento do PIB
real português de 5,1%. A revisão em alta, muito provavelmente, antecipa uma
melhoria no mercado da energia no próximo ano, a redução das dificuldades nas
cadeias de abastecimento a nível global e a gradual superação da pandemia de
covid-19. A POE 2022 estima uma melhoria da envolvente externa e, isso,
reflete-se num contributo das contas externas para o PIB português acima do previsto
para o presente ano de 2021 e uma consequente redução do défice comercial. Mas
o governo estima que o grande impulsionador do crescimento económico em 2022
seja o investimento privado alicerçado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)
e este facto poderá explicar a revisão em alta, de 0,4 pontos percentuais, relativamente
às perspetivas de crescimento do FMI. O bom desempenho do investimento privado
esperado pelo governo gerará mais emprego e, consequentemente, mais consumo das
famílias. Por conseguinte, o executivo estima que o consumo privado contribua
também consideravelmente para o crescimento do PIB em 2022, nomeadamente espera
que tenha o segundo maior peso na subida do PIB, a seguir à variável
investimento privado. Todavia, o investimento público marcará passo em 2022 com
um aumento residual de 1,8% e será o menor contribuidor para o crescimento
económico. Assim sendo, a POE 2022 antecipa que o Investimento privado cresça
em termos reais 8,1% em 2022, o consumo privado 4,7% e a despesa pública apenas
1,8%.
A POE 2022 projeta a continuidade da redução gradual do rácio da dívida pública
iniciada este ano. É esperado que a relação da dívida pública face ao PIB
nominal desça 4,1 pontos percentuais em 2022 para 122,8% de 126,9% estimado para
o presente ano de 2021. Em 2020 o rácio da dívida pública subiu
consideravelmente, penalizado pelos confinamento e distanciamento social ditados
pela pandemia, e alcançou um nível histórico de 133,7%, uma subida de quase 17
pontos percentuais face ao rácio de 117,2% verificado em 2019.
A POE 2022 estima uma redução do défice orçamental de 4,3% para 3,2%, o que
reflete uma intenção de consolidação das contas públicas. Em boa verdade, há
uma desaceleração no aumento da despesa pública, espelhada no crescimento de
apenas 1,8% nos gastos públicos, face aos 4,3% previstos no atual ano de 2021.
O programa de compra de ativos (APP), iniciado pelo Banco Central Europeu (BCE)
em 2015, permitiu uma considerável descida das taxas de juro da dívida pública,
nomeadamente dos países do sul da Europa. Os títulos adquiridos ao abrigo do APP
junto do BCE totalizavam € 3227 mil milhões no final de setembro de 2021, um
montante idêntico à riqueza produzida na Alemanha em 2020, e representavam 39%
do ativo do banco central da Zona Euro. Atualmente, o total do montante ao
abrigo do APP e do PEPP (programa de compras de ativos pandémicos) iniciado na
primavera do ano passado para suportar a crise pandémica, é de € 4666 mil
milhões, e o PEPP responde por cerca de € 1200 mil milhões. Quando as aquisições
de títulos para suportar a crise pandémica terminarem, os investidores esperam
que o BCE continue as compras de ativos e uma das formas poderá passar pelo
reforço do APP. Ou seja, os investidores estimam que as taxas de juro continuem
baixas nos próximos anos e que a inflação mais elevada, verificada
presentemente, seja um fenómeno transitório.
As atuais baixas taxas de juro permitem que o serviço de dívida das contas
públicas se mantenha estável, apesar do elevado montante de dívida. Por
conseguinte, cortar ainda mais na dívida pública relativamente ao PIB nominal,
numa altura em que as famílias e as empresas ainda não se recompuseram da crise
económica ditada pela pandemia, poderia ter um impacto negativo. Uma descida da
dívida pública mais acentuada teria que ser, provavelmente, à custa de uma
variação negativa dos gastos públicos.
A POE 2022 passará agora para a Assembleia da República. O debate na
generalidade acontece a 26 e 27 de outubro e a votação global a 25 de novembro.
Se for aprovada converte-se em Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022).
Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 15 de outubro de 2021
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 15 de outubro de 2021
Proposta de Orçamento do Estado para 2022
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- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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