FAAMG é uma abreviação cunhada pela Goldman Sachs para as ações das grandes
empresas tecnológicas norte-americanas: Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e
Google. Estas cinco empresas representam cerca de 50% do valor do Nasdaq 100
(índice com 100 empresas) e pesam à volta de 20% no S&P 500 (índice
composto por 500 empresas). Quanto maior forem as alterações nas cotações
destas ações, muito sensíveis às taxas de juro e ao dólar norte-americano,
maior será a volatilidade do Nasdaq 100 e do S&P 500. Como multinacionais
têm uma parte dos seus lucros fora dos EUA, logo a conciliação de todos os seus
resultados em dólares (receitas e lucros) é influenciada pela cotação da moeda
norte-americana. Um dólar mais forte diminuirá as receitas vindas do exterior e
vice-versa. Quanto à maior sensibilidade às taxas de juro por parte das FAAMG,
é importante referir que à medida que a taxa de juro aumenta os cash flows
futuros valem cada vez menos e quanto mais longínquos menos valem. As empresas
tecnológicas são estilo crescimento (growth), cujos lucros esperados são
mais elevados para os períodos mais afastados, em contraposição às empresas de
valor (value), menos sensíveis aos juros. As empresas tecnológicas têm
mais duration, ou seja, são mais sensíveis ao juros. A duration é
um termo utilizado na negociação no mercado obrigacionista e descreve a
sensibilidade da cotação de uma obrigação a uma alteração dos juros, e as
empresas tecnológicas têm em média mais duration do que as restantes
empresas. As obrigações com datas de vencimento mais longas têm uma duration
mais elevada.
Sobretudo na segunda metade de 2020 e em 2021, as FAAMG foram impulsionadas
pela enérgica postura expansionista da Reserva Federal dos EUA, política
monetária refletida por taxas de juro de quase zero e duplicação do balanço do
banco central dos EUA, bem como pelo work/learning at home ditado pela
pandemia. Grande parte do trabalho em casa e do ensino à distância foi suportado
pelas tecnologias fornecidas pelas FAAMG. Em quase dois anos as FAAMG
valorizaram 100% e ajudaram o S&P 500 a ganhar 50% nesse mesmo período. Todavia,
com o fim da pandemia e com o regresso ao trabalho e ao ensino presencial, terminou
também grande parte do work/learning at home. Para travar a elevada
inflação impulsionada pela reabertura da economia, pela crise energética, pelo
aumento dos preços dos produtos agrícolas e dos metais industriais, pela
política expansionista da Fed em 2020 e 2021, pelos acréscimos de poupanças e
pelas dificuldades nas cadeias de abastecimento (desde açambarcamentos às
cartelizações), a Reserva Federal dos EUA subiu significativamente as taxas de
juro. Atualmente o rendimento da obrigação do tesouro dos EUA a 2 anos (yield
US a 2 anos) é de 4,50%. A subida dos juros além de ter penalizado as
projeções para os cash flows futuros das FAAMG, impulsionou também o
dólar, contribuindo para a fraca performance das grandes tecnológicas. Entretanto,
as FAAMG perderam tudo o que ganharam desde o início de 2020, mas a aproximação
de uma taxa de juro terminal da Fed, permitindo novamente exposição a duration,
bem como a potencial reversão da tendência de alta do dólar, o futuro da
computação em nuvem e o crescente teletrabalho, podem voltar a impulsionar as
FAAMG. Todavia, as FAAMG devido à sua crescente dimensão viverão sempre sob a
ameaça de um desmembramento, à semelhança do que aconteceu à indústria
petrolífera de Rockfeller em 1911. Em suma, atualmente há os índices com FAAMG e os índices sem FAAMG, estes últimos com melhor desempenho desde o início de
outubro. Por exemplo, a correlação entre o Dow Jones e o S&P 500 tinha sido
quase 'perfeita' nos últimos 12 meses, mas descorrelacionou há mês e meio, mais
acentuadamente depois dos resultados desfavoráveis das FAAMG no final de outubro. Entretanto,
qualquer melhoria impulsionará os mercados. Qualquer surpresa positiva, quanto a uma desaceleração dos juros, vinda dos números da inflação norte-americana ou do emprego dos EUA em dezembro, bem como de uma postura menos hawkish da Fed, poderão impulsionar novamente as
FAAMG.
PMR in JdN 24 novembro 2022
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 25 de novembro de 2022
“Água o deu, água o levou”, as FAAMG
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- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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