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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O dilema emprego/inflação. Como resolvê-lo?

Considerando que a propensão marginal ao consumo diminui à medida que os rendimentos aumentam, também a inflação tende a ser cada vez menos influenciada pelos rendimentos à medida que estes vão aumentando. A inflação é determinada pelos rendimentos que procuram os bens e serviços que compõe o cabaz subjacente ao índice de preços no consumidor. Esse cabaz é flexível, ou seja, quando os seus bens e serviços ficam mais caros são habitualmente substituídos por sucedâneos sempre que possível. E os sucedâneos não são procurados pelos rendimentos mais elevados. Além de que as pessoas com rendimentos altos são poucas, logo insuficientes para influenciarem os preços. Portanto a inflação não é determinada pelos rendimentos elevados, quer eles sejam salários, juros, rendas ou lucros.


Na ciência económica existe um “trade-off”, nomeadamente no curto prazo, entre desemprego e inflação, evidenciado em vários estudos, sobretudo na curva de Phillips. As políticas económicas expansionistas, orçamentais ou monetárias, adotadas pelas autoridades, aumentam a procura agregada e diminuem o desemprego, mas tendencialmente à custa de uma inflação mais alta. Por outro lado, se as autoridades implementarem políticas económicas restritivas, contraindo a procura agregada, tal como acontece atualmente, a inflação tende a diminuir, mas à custa de uma taxa de desemprego temporariamente mais elevada.

O dilema persiste e penaliza mais a população assalariada e com vínculos laborais mais precários, bem como pequenas empresas familiares, cujos negócios estejam mais dependentes do ciclo económico e mais focados em bens discricionários ou na prestação de serviços menos essenciais e sem “princing power” (poder de fixação de preços). A inflação diminui o rendimento real de todas as famílias, sendo uma das variáveis macroeconómicas mais adversas. Todavia, o aumento da taxa de desemprego, para travar a elevada inflação, não afeta todos equitativamente, penalizando mais os trabalhadores jovens, sobretudo na Europa onde a antiguidade é relevante, cujos vínculos laborais sejam mais precários ou que trabalhem em setores mais afetados pelo ciclo económico, penalizando também empresas que produzam bens e serviços menos essenciais.

A situação da maior parte da população já é difícil diante da elevada inflação, mas é mais grave ainda para as famílias que contraíram empréstimos, nomeadamente crédito à habitação, devido ao aumento dos juros pelos bancos centrais, subida essa dos juros que poderá culminar numa recessão, aumentando o desemprego. O BCE penaliza a dívida, mas esta, desde que equilibrada, é importante no impulso da atividade económica, permitindo o financiamento de bons projetos e impedindo que investimentos interessantes fiquem na gaveta, promovendo os avanços tecnológicos e o crescimento económico. Voltando aos que têm vínculos laborais mais precários, muitas vezes os mais jovens e que contraíram empréstimos, são eles os mais afetados pela elevada inflação, sendo penalizados pela alta dos preços, pela subida dos juros e pelo aumento do desemprego. Isto porque os bancos centrais procuram ajustar a procura agregada à menor oferta agregada. Não poderia ser diferente? Um maior empenho no aumento da oferta agregada, uma cabal investigação dos açambarcamentos, muitas vezes na origem dos “bottlenecks”, uma política fiscal mais eficiente no início da cadeia de valor capaz de mitigar ou anular a generalização da inflação, uma maior fiscalização da cartelização, uma promoção do comércio internacional, um aumento das competências do capital humano, uma maior independência energética. Não nos limitarmos apenas a esperar pela atuação dos estabilizadores automáticos em caso de recessão.

Antes da pandemia, a economia estava em equilíbrio no ponto A. Entretanto, as dificuldades nas cadeias de abastecimento, durante e depois da pandemia, diminuíram a oferta, penalizando o crescimento económico, deslocando a curva da oferta agregada para a esquerda (de AS1 para AS2), sendo o novo equilíbrio no ponto B, um crescimento menor e uma inflação mais elevada. Entretanto, as políticas monetárias recessivas dos bancos centrais, espelhadas em significativos aumentos das taxas de juro, que procuram travar a elevada inflação, prometem desacelerar acentuadamente o crescimento económico e aumentar a probabilidade de recessão. Estas políticas dos bancos centrais travam o consumo, deslocando a curva da procura agregada para esquerda (de AD1 para AD2), do ponto B para o ponto C. Ao atual cenário de potencial recessão poder-se-á seguir uma recessão refletida no ponto C, uma inflação mais baixa, mas à custa do aumento do desemprego e de um crescimento menor.

Os juros mais elevados penalizam tanto o consumo como o investimento, existindo também em vários países uma consolidação orçamental e uma redução do rácio da dívida pública face ao PIB nominal, aproveitando a elevada inflação. Tem sido insuficiente a política fiscal no início da cadeia de valor, mitigando muito pouco a elevada inflação, maioritariamente do lado da oferta, energética e importada. Os impostos deveriam ser visivelmente mais baixos a montante da cadeia de valor. O que existe atualmente é uma relativa transferência de riqueza do setor privado para o setor público, um claro efeito crowding-out que penaliza o crescimento económico. Se as políticas recessivas das autoridades monetária e orçamental fossem mais moderadas, estimulando-se também a oferta agregada e controlando-se os açambarcamentos e as cartelizações, o ponto A poderia ser recuperado novamente. Ou seja, ao cenário inicial no ponto A, e ao seguinte no ponto B devido à pandemia, seguir-se-ia o ponto C, idêntico ao ponto A. A procura agregada manter-se-ia a mesma (AD1) e a oferta agregada também (depois de ser ter deslocado do ponto A para o B e por último para o ponto C, regressando novamente ao ponto A).    

PMR in VE 23 novembro 2022






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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.