À medida que a crise bancária
diminui, cresce agora o receio de uma eventual recessão mais cedo do que
indiciado pelo declive negativo da curva de rendimentos norte-americana.
Na tentativa de tranquilizar e
estabilizar os mercados monetários e o sistema bancário, a Reserva Federal dos
EUA (Fed) imprimiu na semana passada 440 mil milhões de dólares, montante
refletido no aumento da rubrica “reservas bancárias “ no passivo do banco
central dos EUA. Entretanto, o item das “reverse repos” do passivo do
balanço da Fed diminuiu cerca de 140 mil milhões de dólares, tendo, assim, o
ativo do banco central dos EUA aumentado 300 mil milhões de dólares. Contudo,
foram empréstimos concedidos aos bancos e não compra de títulos da dívida
pública ou títulos garantidos por hipotecas, não se tratando, deste modo, do
início de um novo “quantitative easing”. A Fed continua o seu processo
de “quantitative tightening”. Esta significativa liquidez manteve calmo o
importante mercado de empréstimos diários, o denominado mercado de "repos",
principal “lubrificante da engrenagem monetária”, tendo a sua taxa de
juro subjacente, a “overnight” dada pela SOFR, subido apenas
ligeiramente de 4,55% para 4,58% e no 99º percentil de 4,62% para 4,72%, sempre
dentro do intervalo das Fed Funds Rate de 4,50% a 4,75%.
Na Europa, também o Banco
Nacional da Suíça alcançou no fim de semana passado uma importante fusão entre
o UBS e o fragilizado Credit Suisse, afastando parte dos receios de uma crise
bancária global. O franco suíço tem-se mantido estável nas últimas semanas,
confirmando tranquilidade, apesar do desagrado de alguns investidores no que
concerne à inversão das prioridades na
liquidação do Credit Suisse, tendo os acionistas sido beneficiados em
detrimento da dívida subordinada, nomeadamente de capital Tier 1. No entanto,
ainda persiste alguma ansiedade, corroborada pela alta dos “credit default
swaps” do UBS, agora sob um maior escrutínio dos investidores, fruto da
incorporação de alguns negócios problemáticos do Credit Suisse.
Entretanto, parece que o cenário de recessão reaproximou-se novamente. Em
janeiro as perspetivas de uma recessão tinham sido empurradas para final de
2023, meados de 2024. Contudo, na última semana o cenário central inverteu-se e
as expectativas de uma recessão nos EUA são agora já para depois do verão, no
3° trimestre, conforme refletido pela antecipação de descida de taxas de juro
pela Fed já em julho.
O PIB dos EUA cresceu no 3º trimestre
de 2022 impulsionado pelas contas externas, no 4º trimestre de 2022 pelo
investimento, nomeadamente variação positiva dos stocks, agora está previsto um
crescimento à volta de 3,2% do PIB no 1º trimestre de 2023, de acordo com o GDP
Now da Fed de Atlanta, impulsionado pelo consumo. Todavia, os acontecimentos das
últimas semanas podem penalizar substancialmente o consumo, sendo provável uma
retração dos consumidores nos próximos meses, diminuindo o seu contributo para
o crescimento já no 2º trimestre de 2023. Eventualmente, a inflação pode
desacelerar mais rapidamente, indiciando recessão. Ou seja, um possível
abrandamento mais visível da inflação nos próximos tempos vai deixar de ser
visto como positivo (queda dos juros), mas como negativo, espelhando recessão.
Sendo, talvez, os pedidos de subsídios de desempregos nos EUA, os denominados Jobless
Claims, com alguma certeza, “o canário na mina de carvão.”
Existem várias razões que
justificam os receios de uma recessão mais cedo do que o previsto anteriormente:
1) Os bancos regionais norte-americanos vão financiar menos a economia, quer
pelas dificuldades apresentadas, quer pelo maior escrutínio das autoridades
monetárias no futuro, empurrando a economia dos EUA para uma eventual recessão
mais cedo do que o antecipado pelas curvas dos juros. 2) A crise bancária gera
sempre uma crescente incerteza e redução do consumo. 3) As perspetivas para os
juros dos bancos centrais têm diminuído substancialmente. 4) O diferencial
entre os rendimentos a 10 anos e a 2 anos nos EUA diminuiu, sinalizando o
início de uma recessão na maior parte das vezes quando o spread inverte
novamente para terreno positivo. 5) Cotações do bitcoin e do ouro têm subido
consideravelmente, apostando numa descida dos juros, antecipando e sinalizando
mais uma vez uma possível recessão. Nota: escrito a 22 de março, antes da
decisão da Fed
Sem comentários:
Enviar um comentário