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sexta-feira, 31 de março de 2023

Recessões: curva de rendimentos indicia, curva do petróleo corrobora

 


A curva de rendimentos é importante para antecipar a evolução da economia. Habitualmente, no muito longo prazo as taxas de juro são menos voláteis, apresentando uma relativa constância, nomeadamente nos prazos superiores a 10 anos, sobretudo o rendimento do tesouro a 30 anos. Todavia, no início da curva, nos prazos mais curtos, a volatilidade é muito mais elevada, dependendo muito do ciclo económico, do risco existente, da incerteza, do nível de inflação e da evolução das taxas de juro. E se o rendimento a 2 anos do tesouro dos EUA mede as expetativas para a evolução das Fed Funds Rate, o rendimento a 3 meses marca o seu atual nível.

Atualmente, o declive negativo da curva de rendimentos do tesouro norte-americano indicia recessão económica. O diferencial entre o rendimento a 10 anos e 2 anos é negativo de 0,80%, ou seja, a taxa de juro de longo prazo a 2 anos é superior à de 10 anos, indicando maior incerteza económica e risco mais elevado nos próximos trimestres. Se a curva de rendimentos indicia uma recessão, a curva do petróleo com declive negativo continua  atualmente a corroborar crescimento económico, mas, no entanto, a sua inclinação negativa tem vindo gradualmente a diminuir nos últimos 12 meses. Uma curva do petróleo com declive negativo apresenta cotações do crude para entrega imediata superiores às dos prazos mais longos, ou seja, uma curva conhecida pela nomenclatura “backwardation”, muitas vezes devido à escassez de matéria-prima energética face à procura elevada. Nos últimos meses o declive negativo da curva do petróleo tem diminuído, indiciando uma menor procura e receios de recessão, mas a OPEP+ tem-se esforçado para manter as cotações elevadas, diminuindo também a oferta. Entretanto, se a procura continuar a cair, os preços para entrega imediata poderão descer abaixo das cotações dos prazos mais longos, culminando num declive positivo da curva de petróleo, ou seja, excesso de oferta de petróleo para a procura existente e gradualmente menor, conhecido como fenómeno “contango”, corroborando uma recessão económica indiciada, atualmente, pela curva de rendimentos. 

Uma curva do petróleo em “contango” nem sempre coincide com uma recessão, mas um “contango” precedido de uma curva de rendimentos com declive negativo é quase sempre sinónimo de recessão, de que esta chegou e já se instalou. 

Há outra relação importante entre curvas de rendimento e curvas do petróleo. Ao contrário dos investidores, o custo de armazenamento de petróleo para os produtores é muito baixo (apenas os custos fixos da produção). Os produtores “podem armazenar o petróleo debaixo do solo se for mais rentável do que vendê-lo e aplicar o dinheiro noutros ativos financeiros. Uma curva de rendimentos invertida significa que o mercado prefere ativos de curto prazo, que pagam muito mais, em vez de ativos de longo prazo. Se considerarmos o petróleo e os outros minerais como ativos de curto prazo, perante uma curva de rendimentos com declive negativo é preferível manter os minerais no solo. Além disso, uma curva invertida indicia recessão, menor procura, mais uma razão para os produtores diminuírem a sua produção e a sua oferta. O comportamento pode impulsionar a cotação do petróleo e outros minerais, caso a procura não se deteriore consideravelmente. Este é um dos principais fatores por detrás da elevada volatilidade da cotação do petróleo e das matérias-primas. 

PMR In VE 24 de fevereiro 2023



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.