A curva de rendimentos é importante para antecipar a evolução da economia. Habitualmente, no muito longo prazo as taxas de juro são menos voláteis, apresentando uma relativa constância, nomeadamente nos prazos superiores a 10 anos, sobretudo o rendimento do tesouro a 30 anos. Todavia, no início da curva, nos prazos mais curtos, a volatilidade é muito mais elevada, dependendo muito do ciclo económico, do risco existente, da incerteza, do nível de inflação e da evolução das taxas de juro. E se o rendimento a 2 anos do tesouro dos EUA mede as expetativas para a evolução das Fed Funds Rate, o rendimento a 3 meses marca o seu atual nível.
Atualmente, o declive negativo da curva de rendimentos do
tesouro norte-americano indicia recessão económica. O diferencial entre o
rendimento a 10 anos e 2 anos é negativo de 0,80%, ou seja, a taxa de juro de
longo prazo a 2 anos é superior à de 10 anos, indicando maior incerteza
económica e risco mais elevado nos próximos trimestres. Se a curva de
rendimentos indicia uma recessão, a curva do petróleo com declive negativo
continua atualmente a corroborar crescimento
económico, mas, no entanto, a sua inclinação negativa tem vindo gradualmente a
diminuir nos últimos 12 meses. Uma curva do petróleo com declive negativo
apresenta cotações do crude para entrega imediata superiores às dos prazos mais
longos, ou seja, uma curva conhecida pela nomenclatura “backwardation”,
muitas vezes devido à escassez de matéria-prima energética face à procura
elevada. Nos últimos meses o declive negativo da curva do petróleo tem
diminuído, indiciando uma menor procura e receios de recessão, mas a OPEP+
tem-se esforçado para manter as cotações elevadas, diminuindo também a oferta.
Entretanto, se a procura continuar a cair, os preços para entrega imediata
poderão descer abaixo das cotações dos prazos mais longos, culminando num
declive positivo da curva de petróleo, ou seja, excesso de oferta de petróleo
para a procura existente e gradualmente menor, conhecido como fenómeno “contango”,
corroborando uma recessão económica indiciada, atualmente, pela curva de
rendimentos.
Uma curva do petróleo em “contango” nem sempre coincide com
uma recessão, mas um “contango” precedido de uma curva de rendimentos
com declive negativo é quase sempre sinónimo de recessão, de que esta chegou e
já se instalou.
Há outra relação importante entre curvas de rendimento e curvas
do petróleo. Ao contrário dos investidores, o custo de armazenamento de
petróleo para os produtores é muito baixo (apenas os custos fixos da produção).
Os produtores “podem armazenar o petróleo debaixo do solo” se for
mais rentável do que vendê-lo e aplicar o dinheiro noutros ativos financeiros.
Uma curva de rendimentos invertida significa que o mercado prefere ativos de
curto prazo, que pagam muito mais, em vez de ativos de longo prazo. Se
considerarmos o petróleo e os outros minerais como ativos de curto prazo,
perante uma curva de rendimentos com declive negativo é preferível manter os
minerais no solo. Além disso, uma curva invertida indicia recessão, menor
procura, mais uma razão para os produtores diminuírem a sua produção e a sua
oferta. O comportamento pode impulsionar a cotação do petróleo e outros
minerais, caso a procura não se deteriore consideravelmente. Este é um dos
principais fatores por detrás da elevada volatilidade da cotação do petróleo e
das matérias-primas.
PMR In VE 24 de fevereiro 2023
PMR In VE 24 de fevereiro 2023
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