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sexta-feira, 31 de março de 2023

Reabertura chinesa pode agravar inflação global?

 


Perante uma inflação persistentemente elevada nas economias avançadas, nomeadamente nos EUA e na união Europeia, a reabertura da economia chinesa aumenta ainda mais os receios de uma resistência acrescida da inflação em níveis consideravelmente altos. A inflação subjacente na Europa regista consecutivamente máximos históricos, impulsionada pelas expectativas de inflação cada vez mais desancoradas, fixando-se em valores muito acima da meta de estabilidade de preços do BCE nos 2%. Mas é possível que a reabertura da economia chinesa e consequente aumento da procura global agrave ainda mais este cenário? Na realidade, o governo chinês estima para 2023 um crescimento económico à volta de 5%, aquém do esperado pelos investidores e analistas de 5,5% ou mais. De acordo com a postura de Xi Jinping, a economia chinesa deverá ser cada vez mais impulsionada pelo consumo interno e menos pelas exportações. A prioridade de crescimento de Pequim mais centrada no consumo, pesando apenas 38% no PIB, muito aquém dos 70% das economias avançadas. O líder chinês procura uma maior autossuficiência e prosperidade mais ampla, apostando num crescimento económico mais alicerçado na procura interna, sobretudo no consumo privado. Depois de um crescimento de apenas 3% em 2022, o segundo mais baixo dos últimos 50 anos, apenas o crescimento do 2,2% em 2020 foi mais fraco, os analistas esperavam um crescimento mais robusto em 2023, em resultado da reabertura. No gráfico podemos observar o gradual abrandamento do crescimento do PIB desde 2007, uma tendência de queda que promete continuar nos próximos tempos, diminuindo a preocupação de uma economia chinesa inflacionista para o resto do mundo. Ao fraco crescimento do PIB chinês em 2020, imposto pela pandemia, a economia regressou em força em 2021, existindo uma reversão quase perfeita espelhada nos círculos 1 e 2, um dos fatores na génese da atual inflação. Todavia, o crescimento esperado de apenas 5% em 2023 não perspetiva uma reversão do círculo 3 para o círculo 4, afastando receios inflacionistas. Também a folga no mercado de trabalho chinês, dada pela taxa de desemprego de 5,5%, é uma variável mais deflacionista que inflacionista.

Uma recuperação da economia chinesa mais focada internamente dificilmente deverá elevar substancialmente o renminbi, reduzindo as probabilidades de aumento dos preços de exportação, evitando impulsionar, desse modo, os preços nas geografias importadoras de bens chineses. É mais provável que a recuperação da China impulsione o turismo regional, mas não o aumento dos preços de exportação dos seus produtos manufaturados.

Também nos mercados de commodities, onde a China é um dos principais price makers, determinando, a par de outros grandes blocos económicos como os EUA e a União Europeia, os preços de muitos metais industriais e dos combustíveis fósseis, parece improvável ​​novos ganhos acentuados dos preços das matérias-primas devido à reabertura. Os mercados de metais terão talvez já descontado em parte a reabertura.

Os habituais gastos da China em infraestruturas, basicamente estradas, pontes, portos e aeroportos, deverão desacelerar, afastando pressão sobre os preços das commodities. Novos gastos em infraestrutura, sobretudo em tecnologia, serão cada vez mais uma prioridade, sendo menos intensivos em commodities em estado bruto. No concerne ao petróleo, a seguir aos EUA, a China é o segundo maior consumidor do mundo. No entanto, a China deve ter beneficiado das importações mais baratas de petróleo russo no último ano, tendo aumentado, provavelmente, o seu stock de petróleo, não sendo agora talvez uma fonte de considerável procura e impulso do preço do petróleo e, por conseguinte, da inflação. As cadeias de suprimentos chinesas estão a funcionar melhor, ajudando a aliviar as pressões sobre os preços, sendo a produção de carne suína um cabal exemplo, que após atingir uma alta de oito anos em 2022, os preços caíram 10,8% em janeiro. Em suma, os preços nas fábricas estão a cair, perspetivando-se um cenário "Goldilocks" na China de crescimento económico sem inflação.

PMR In VE 8 março 2023







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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.