Depois do encerramento do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank nos
EUA, na Europa, o segundo maior banco da Suíça, o Credit Suisse, perdeu cerca
de um quarto do seu valor em bolsa na quarta-feira, arrastando novamente todo o
setor bancário global, nomeadamente europeu e norte-americano. Enquanto isso, a
bitcoin valoriza cerca de 25% desde o colapso do SBV, mantendo-se nesta
quarta-feira resiliente diante do contexto adverso em toda a banca europeia,
após o maior acionista do Credit Suisse, o banco da Arábia Saudita, Saudi
National Bank, detendo 9,9% do banco suíço, referir que não fornecerá mais
ajuda financeira ao banco, alegando motivos regulatórios que limitam a sua
exposição a 10%.
Nos últimos dias, os investidores procuram
incansavelmente ativos de refúgios, distanciando-se dos títulos ligados ao
setor bancário. O flight to quality nos mercados financeiros tem sido
uma realidade desde quinta-feira, dia 9 de março, aquando dos primeiros sinais
de dificuldades crescentes no SVB. A fuga para a qualidade dos ativos ocorre
quando os investidores em conjunto começam a alterar a alocação de ativos de
investimento mais arriscados para outros mais seguros, por exemplo, trocando
ações por obrigações. As remunerações das obrigações dos tesouros europeu e
norte-americano têm descido consideravelmente nos últimos dias, sinalizando uma
valorização dos títulos de dívida pública, desempenhando o seu habitual papel
de um dos melhores ativos de refúgio. Entretanto, o dólar norte-americano,
talvez o melhor ativo de refúgio de curto prazo, quando os investidores têm
como principal preocupação a liquidez, tem tido um comportamento errático,
desvalorizando cerca de 2% contra o euro nos dias de colapso dos dois bancos
norte-americanos, mas recuperando essa perda quando a crise bancária atravessou
o Atlântico, alcançando a banca helvética, nomeadamente o Credit Suisse. Na
quarta-feira, o franco suíço também esteve penalizado face ao dólar, mas ganhou
quase 1% ao euro, sinalizando receios dos investidores quanto a um eventual
contágio à banca da Zona Euro.
Também o ouro tem sido um cabal porto seguro nos últimos
dias, valorizando quase 120 dólares por onça desde o dia 9 de março, de uma
cotação de 1810 dólares/onça até aos 1930 dólares. A descida das taxas de juro,
sobretudo dos rendimentos do tesouro, a par do milenar atributo do ouro, como
uma reserva valor de referência em momentos de forte incerteza, têm
impulsionado o valor do metal amarelo.
Os índices acionistas têm registado perdas significativas
nos últimos dias, especialmente o setor bancário. Entretanto, no atual contexto
de desvalorização das ações, o setor tecnológico tem-se mantido relativamente
estável, com perdas ligeiras, em parte devidas talvez às margins calls de carteira alavancadas (suportadas por crédito, ou seja, dinheiro emprestado)
penalizadas pela significativa descida dos títulos da banca. Quando uma
carteira suportada por empréstimo desvaloriza significativamente, por exemplo
se tiver exposição a ações da banca, e caso o cliente não provisione a conta,
todos os títulos em carteira são vendidos ao mercado, independentemente da
classe de ativo ou setor.
O setor tecnológico é muito sensível às taxas de juro e a
procura dos investidores por duration é bem visível nos últimos dias.
Assim sendo, este é um dos principais fatores que corrobora atualmente a
resiliência da bitcoin, confirmando mais uma vez a principal criptomoeda global
como um ativo tecnológico, sendo bastante sensível à evolução dos juros. Outro
fator que não deve ser descartado, podendo justificar também a valorização da
bitcoin, talvez seja a perceção dos investidores de um aparente descrédito no
regime de reservas fracionárias subjacente ao atual sistema bancário. E no seio
das principais criptomoedas, especificamente as de maior capitalização, são
muito poucas as que valorizam nos últimos dias, sendo a bitcoin a que mais
ganha, quase o dobro da valorização da Ethereum. A principal rival da bitcoin
ganha cerca de 15% desde o colapso do SVB. Entretanto, no universo de 10 mil
criptomoedas, apenas cerca de 100 valorizam desde quinta-feira, dia 9 de março.
Os mercados acionistas têm estado nervosos nos últimos
dias, penalizados pelo setor bancário, mas, no entanto, o mercado de taxas de
juro de muito curto prazo norte-americano mantém-se calmo. A overnight (taxa de juro diária) no mercado de repos do dólar reflete a serenidade de um
dos principais instrumentos que lubrificam todo o sistema monetário,
bancário e a economia em geral. Ou este indicador, que tem sido fiável nos
últimos anos, perdeu a sua fiabilidade ou a normalização regressará nas
próximas semanas.
Nota: escrito em 15 de março
Entretanto, de 8 a 15 de março a Reserva Federal dos EUA
aumentou as reservas bancárias em 440 mil milhões de dólares e, ainda no
passivo do balanço do banco central dos EUA, a rubrica reverse repos diminuiu
140 mil milhões de dólares. Ou seja, na última semana a Fed imprimiu 440 mil
milhões de dólares e o seu balanço aumentou cerca de 300 mil milhões de dólares
de 8,342 para 8,639 biliões de dólares, apagando mais de 3 meses de Quantitative
Tightening.
Porém, não se trata de um Quantitative Easing, mas de um
empréstimo, tendo em conta que as rubricas títulos do tesouro e títulos garantidos por hipotecas (MBS) no ativo da
Fed não se alteraram. Esta liquidez manteve calmo o mercado monetário diário
(repos), tendo a taxa overnight subido apenas ligeiramente de 4,55% para 4,58%,
mantendo-se dentro do atual intervalo das Fed Fund Rates de 4,50% a 4,75%.
PMR in VE 17 março 2023
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