Cada moeda tem uma taxa de juro subjacente que evolui de
acordo com o comportamento da economia e do andamento da política monetária do
banco central. São inúmeras as taxas de juro, desde as de curto prazo às de
longo prazo. Juros nominais ‘versus’
reais. As taxas de juro do crédito ao consumo e as do crédito à habitação.
Tal como existem várias taxas de juro, temos também
diferentes medidas de inflação, como por exemplo: os preços no produtor, os
preços no consumidor e os preços do imobiliário. Numa ótica ‘upstream & downstream’, a montante
da cadeia de valor, os preços no produtor medidos pelo IPP são voláteis e
refletem os preços das matérias-primas, desde metais industriais aos produtos
agrícolas e à energia. Atualmente, os preços no produtor têm subido
significativamente a nível global. Na Alemanha, o IPP aumentou 18,4% em
outubro, a maior subida desde novembro de 1951, e sem energia cresceu 9,2%. Em
Espanha, o IPP acelerou 31,9% em outubro, o mais elevado desde janeiro de 1976,
mas sem energia o acréscimo foi de 9,7%. Nos EUA, a subida do IPP em outubro
foi de 8,6%, a mais alta desde 2010, e excluindo alimentação e energia subiu
6,2%. Na China o aumento em outubro foi de 13,5%, o mais elevado dos últimos 26
anos.
A jusante na cadeia de valor, a subida do IPC está aquém do IPP. Na Alemanha, o
IPC aumentou 4,5% em outubro, o mais elevado desde agosto de 1993. Em Espanha, subiu
5,4%, o valor mais alto dos últimos 29 anos, penalizado pelos preços da
eletricidade e dos combustíveis. Na China, o IPC aumentou 1,5% em outubro. Nos
EUA, o IPC subiu 6,2% em outubro, a maior subida desde novembro de 1990, agravada
pelas dificuldades nas cadeias de abastecimento, como congestionamento
portuário, escassez de ‘inputs’ e mão
de obra, subidas dos custos de energia e aumentos salariais. O IPC sem energia
e alimentação acelerou 4,6%, o mais elevado desde agosto de 1991. O indicador da
inflação no consumidor medido pelo PCE ‘core’,
bitola pela qual se rege a Reserva Federal dos EUA (Fed) na prossecução da sua
política monetária, aumentou 4,1% em outubro, o maior desde janeiro de 1991.
Em 2010, o preço do cobre atingiu um máximo histórico de 4,5 dólares por libra
(453 gramas), desceu gradualmente até 2 dólares no final de 2015 e, atualmente,
é novamente de 4,5 dólares. Em 2008, e de 2011 a 2014, o Brent cotou acima dos
100 dólares por barril, desceu até 35 dólares em 2016 e hoje cota nos 70
dólares.
O IPP é mais volátil que o IPC porque reflete melhor os ciclos económicos. A
estabilidade dos salários nas últimas décadas afasta boa parte da volatilidade
do IPC e confere-lhe um valor consideravelmente mais baixo relativamente ao
IPP.
O preço do imobiliário nos EUA, medido pelo índice Shiller, aumentou 19,5% de setembro
de 2020 a setembro de 2021. Um ritmo que abrandou, mas é mais elevado do que em
qualquer altura de forte subida dos preços das casas no período de 2003 a 2006,
antes da crise imobiliária nos EUA. A teoria quantitativa da moeda representa o
equilíbrio entre dinheiro e produção. A política acomodatícia da Fed, nos
últimos 20 meses, impulsionou a inflação imobiliária e a subida das ações, mas
penalizou a poupança real e os detentores de liquidez, corroborando o efeito Cantillon.
Boa parte do dinheiro só chega às empresas e às famílias se o analista de
crédito dos bancos comerciais aprovar os financiamentos, logo o impacto do aumento
da quantidade de dinheiro no IPC é baixo. Além disso, a velocidade na
circulação de moeda está em mínimos históricos.
De realçar que, atualmente, os EUA conseguem produzir mais do que em 2019 e com
menos 5 milhões de trabalhadores, sinal de aumento de produtividade e
capacidade de mitigar as subidas salariais no IPC.
A subida dos preços da energia e as interrupções nas cadeias de abastecimento
configuram uma inflação conjuntural. Os preços aumentam numa economia cuja
procura excede a oferta, mas se existir um aparelho produtivo estruturado e
refletido num excesso de capacidade instalada, mais cedo ou mais tarde os
preços tendem a regressar à normalidade.
Todavia, há uma potencial inflação estrutural no horizonte, ou seja, no longo
prazo a China será menos deflacionista do que no passado, a descarbonização tem
custos, os ‘baby boomers’ chegam
gradualmente à reforma, e há sinais de um maior protecionismo para diminuir a
dependência do exterior e mitigar as dificuldades nas cadeias de abastecimento causadas
pela pandemia.
Paulo Monteiro Rosa