O primeiro trimestre do ano fica marcado pelo antes e pelo depois do dia 24 fevereiro. A invasão da Ucrânia pela Rússia e as, consequentes, repercussões económicas globais aceleraram a inflação e abrandaram o crescimento económico, aumentando os receios de uma estagflação. E se no início do ano havia um consenso, mais ou menos generalizado, de um melhor desempenho em 2022 da economia europeia face à norte-americana, nomeadamente no que concerne ao impacto da inflação, a guerra na Ucrânia reverteu esse sentimento inicial. As economias europeias, mais próximas do conflito e mais dependentes das matérias-primas russas, principalmente do gás natural, são das mais penalizadas a nível global.
A economia europeia havia abrandado significativamente no final do ano passado, penalizada pelas restrições impostas pelo ressurgimento da covid-19 e pelos gastos acrescidos em energia com a aproximação da estação mais fria do ano. Mas a esperada recuperação nos meses seguintes ao inverno foi gorada pelas implicações resultantes do conflito no leste europeu. Nas últimas semanas, as perspetivas económicas alemãs medidas pelo Ifo, a confiança do consumidor germânico evidenciada pelo GfK e o sentimento apresentado pelo ‘sentix’ da Zona Euro baixaram acentuadamente e regressaram a níveis de há dois anos, aquando do confinamento global ditado pela pandemia na primavera de 2020.
Entretanto, o Banco Central Europeu reviu em alta a inflação na Zona Euro para 2022 de 3,2% para 5,1% e em baixa o crescimento económico de 4,2% para 3,7%, e procura, agora, enfrentar decididamente a elevada inflação, finalizando o programa de estímulos e aumentando as taxas de juro. Mas um dilema emerge: o de um forte abrandamento da economia, e a tentativa de um soft landing poderá redundar numa recessão. A inflação na Europa tem sido, em grande medida, impulsionada pela alta dos preços dos combustíveis fósseis, uma variável maioritariamente exógena e que subtrai riqueza ao PIB da Zona Euro, facto que retira eficácia às políticas monetárias contracionistas.
Também a Reserva Federal norte-americana reduziu de 4% para
2,8% o crescimento económico dos EUA para 2022, e aumentou as expetativas para
inflação, medida pelo PCE, de 2,6% para 4,3%. Talvez os EUA estejam mais bem
preparados do que há 50 anos, aquando do choque petrolífero da década de 70,
para mitigar, ou mesmo evitar, uma estagflação porque a sua economia é,
atualmente, autossuficiente em petróleo e gás natural. Um robusto mercado de
trabalho norte-americano mostra uma economia resiliente, mas pressiona os
salários. Em março, a taxa de desemprego desceu para 3,6%, o salário-hora
aumentou 5,6% e as ofertas de emprego excedem, atualmente, em 1,8 vezes a
procura, realidades que pressionam a inflação norte-americana. Nos EUA, além
dos valores elevados da energia, os índices de preços são também impulsionados
pelas rendas de casas, pelos salários e ainda por alguns, ainda resistentes,
desfasamentos nas cadeias de abastecimentos, que podem regressar ou agudizar-se
com as repercussões em cascata causadas pela guerra na Ucrânia.
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