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sexta-feira, 22 de abril de 2022

Literacia financeira suporta mercados

Elevada inflação deteriora o dinheiro parado. Mercados acionistas, sobretudo os setores mais protegidos da inflação, podem ser uma alternativa à liquidez 

Uma inflação de 7,5% na Zona Euro e de 8,5% nos EUA deterioram a liquidez dos investidores. No entanto, um dilema persiste: manter liquidez suficiente para enfrentar qualquer agudização do conflito da Ucrânia, mas pagar um preço por essa estratégia em resultado da elevada inflação ou investir nos mercados acionistas, sobretudo em setores e empresas com suficiente pricing power para tentar colmatar parte das perdas infligidas pela elevada inflação, mas estar exposto a ativos de risco e a um agravamento da guerra no leste europeu.

A diminuição dos receios de uma intensificação do conflito tem reencaminhado os investidores para os mercados acionistas. A última semana não foi exceção e regista ganhos. Ao longo da semana, a cotação do ouro desceu cerca de 60 dólares a onça, um ativo de excelência diante da incerteza, espelhando algum otimismo. Também o preço do petróleo aliviou, refletindo menos incerteza e uma maior propensão dos investidores ao risco. E ao longo da semana, os investidores foram gradualmente aumentando a sua exposição aos ativos de risco, nomeadamente ao mercado acionista. 

Em média os principais índices bolsistas mundiais de ações têm no longo prazo um melhor desempenho do que a inflação. As ações além de facultarem ganhos de capital, também distribuem dividendos ou têm programas de recompra associados. No entanto, no curto prazo a volatilidade e a incerteza afastam os mais propensos ao risco, por isso, a diversificação de uma carteira é essencial e um horizonte temporal mais longo é indispensável. 

Em Portugal há um défice de literacia financeira, não há uma simpatia particular pelos mercados financeiros e as bolsas são vistas, por alguns, como locais de jogo. No entanto, os portugueses são uns proeminentes apreciadores dos jogos sociais. Sendo assim, em média os portugueses têm beneficiado menos dos ganhos acionistas. E num momento de dilapidação do dinheiro em termos nominais, proteção contra a elevada inflação é necessária. Todavia, uma robusta propensão ao investimento imobiliário tem garantido parte dos ganhos subtraídos pela menor propensão à compra de ações e de obrigações. A atração pelo imobiliário poderá advir da sua maior visibilidade, sendo bens físicos, mais tangíveis, cujo funcionamento de investimento e arrendamento coincide muito mais com o quotidiano de cada investidor. Mas o investimento imobiliário necessita de montantes elevados. Para somas mais pequenas os fundos imobiliários podem ser mais exequíveis.

Indiretamente os portugueses investem nos mercados acionistas através das suas contribuições para a segurança social. A gestão deste organismo público procura otimizar os seus fundos através da diversificação dos seus investimentos.            

Esta semana, os resultados empresariais referentes ao primeiro trimestre têm-se revelado em média superiores às estimativas e têm suportado o desempenho ligeiramente positivo dos mercados acionistas. Os pedidos de subsídio de desemprego nos EUA continuam em mínimos dos últimos 53 anos, a corroborar uma economia norte-americana resiliente e a mostrar um mercado de trabalho apertado e robusto. Sendo assim, há receios de maiores pressões salariais que possam criar uma espiral inflacionista indesejável.

PMR In Jornal Económico 21 de abril de 2022




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.