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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Inflação suporta mercados

A atual elevada inflação poderá estar a ser incorporada, pelo menos em parte, nas cotações das ações, cujos preços são nominais. Ceteris paribus, esta postura suporta o mercado acionista

Os números da inflação agudizam-se e os bancos centrais respondem com uma política monetária contracionista cada vez mais enérgica. Atualmente, o mercado espera que a Reserva Federal dos EUA (Fed) suba a taxa de juro em 50 pontos base em cada uma das duas próximas reuniões de política monetária, a 4 de maio e 15 de junho. Aumentos que colocarão os juros da Fed no intervalo [1,25% a 1,50%] antes do início do verão, face ao presente intervalo [0,25% a 0,50%]. E uma subida de 25 pontos nas restantes quatro reuniões de 2022, encerrando o ano no intervalo [2,25% a 2,50%].

Os mercados acionistas recuperaram dos mínimos e procuram equilibrar-se entre um erro de política monetária que cause uma recessão e uma economia resiliente com um robusto setor consumidor e empresarial. Os indicadores de atividade económica, PMI, espelham uma tendência de alta da confiança dos empresários na Europa e nos EUA, e os pedidos de subsídio de desemprego norte-americanos de apenas 187 mil, o nível mais baixo desde 6 de setembro de 1969, mostram bem a força do mercado de trabalho nos EUA e a robustez da economia norte-americana.

 Apesar do aumento dos receios de uma estagflação, as ações mantiveram-se firmes. Como os índices acionistas e a cotação das ações são nominais, um determinado índice que encerre o ano a perder 5%, significa que na realidade perdeu 10% em termos reais se a inflação for de 5% no final de dezembro de 2022. Por isso, e ceteris paribus, há margem para alguma subida dos índices pela simples incorporação da inflação. Há empresas que conseguem repassar aos seus clientes os custos mais elevados das matérias-primas, desde energia e produtos agrícolas aos metais industriais, bem como da mão de obra, dos bottlenecks que elevam os preços, dos alugueres e dos empréstimos mais caros. As empresas aumentam preços para protegerem as suas margens de lucro. E no final, apresentarão lucros mais elevados, pelo menos em termos nominais, que deverão ser espelhados na cotação e nos índices, agora também mais inflacionados, mas não necessariamente com ganhos reais. Se entrarmos em recessão, algum ganho nominal que poderia existir reverterá para uma perda, com certeza. Mas a inflação deverá ser incorporada, pelo menos em parte, nas cotações. Se nas últimas décadas a inflação raramente interferiu com o apuramento dos ganhos acionistas no final do ano, atualmente fazê-lo é fundamental. 

Os bancos têm recuperado diante das posturas do Banco Central Europeu (BCE) e da Fed que se mantêm resilientes no combate à inflação. Todavia, o Banco de Inglaterra (BoE) tem recuado no tom mais hawkish, preocupado com a queda dos rendimentos das famílias espoletada pela guerra na Ucrânia, descida essa que poderá ser agravada com juros mais elevados. O BoE espera que a inflação atinja um pico de 8% no segundo trimestre.

 A rotação no mercado é visível. As petrolíferas registam ganhos. Setores cíclicos, como seguradoras e automóveis, são apostas preferenciais num cenário de taxas de juro mais elevadas. Diante de inflação mais alta, há setores que registam melhores desempenhos. Em apenas alguns dias, a Tesla aumentou duas vezes os preços dos seus veículos elétricos. 


PMR, 25 de março JEconómico 



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.