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sexta-feira, 8 de abril de 2022

Juros penalizam bolsas - A curva de rendimentos norte-americana

Na curva de rendimentos dos EUA, o diferencial entre os 10 e os 2 anos entrou em terreno negativo, indiciando recessão a prazo. Mas o spread entre os 10 anos e os 3 meses mostra um movimento díspar, tem aumentado, sinalizando crescimento económico


Nos últimos meses, o spread entre os rendimentos do tesouro norte-americano a 10 e 2 anos tem diminuído substancialmente e recentemente entrou em terreno negativo, antecipando uma recessão económica nos EUA nos próximos 12 a 24 meses. As atas da Fed referem uma redução do balanço de 60 mil milhões de dólares mensais em títulos de dívida pública e a governadora da Fed, Brainard, corroborou também essa postura mais agressiva.


A inversão da curva de rendimentos anula a eficácia da estratégia do carry trade, ou seja, a obtenção de crédito no curto prazo para financiar investimentos no longo prazo deixa de ser interessante. Numa economia em crescimento, a inversão da curva de rendimentos indicia desaceleração da inflação no longo prazo e, consequentemente, abrandamento da atividade económica. Ademais, a curva de rendimentos é um barómetro fiável para aferir a diferença entre o custo do crédito e o ganho gerado quando esse mesmo dinheiro é emprestado ou investido por um longo período de tempo. Se o retorno é negativo, como evidenciado atualmente pelo spread entre os 10 e 2 anos, os empréstimos diminuem e aquela atividade económica impulsionada pelo crédito também. 


Mas a curva precisa ficar invertida por um período substancial de tempo antes de dar um sinal válido. A curva de juros dos 10/2 anos inverteu cerca de 14 meses antes da recessão de 2001, à volta de 19 meses antes da grande recessão de 2008/2009 e pouco mais de cinco meses antes da recessão de 2020. No entanto, após o sinal de alerta os mercados acionistas ainda valorizaram durante um período razoável de tempo. Além disso, a inversão da curva de juros talvez não seja tão confiável na previsão de uma recessão como era antes, porque Reserva Federal dos EUA (Fed) enviesou as taxas de juro com a sua postura de principal player do mercado, espelhada no atual balanço de 9 biliões de dólares. Ou seja, o rendimento a 10 anos seria substancialmente mais elevado sem a atuação da Fed, enquanto o de 2 anos representa a parte da curva que habitualmente reflete as expetativas para o aumento de taxas da Fed, logo seria talvez semelhante ao atual nível. E a curva entre os 10 e os 2 anos pode reverter a inversão, caso haja uma resolução para a guerra na Ucrânia, a inflação desacelere ou a Fed faça uma pausa no seu atual ciclo de alta de juros.  

 

Entretanto, o spread entre os 10 anos e os 3 meses, métrica preferida pela Fed para antecipar possíveis recessões económicas a um prazo de um ano, evidencia um movimento contrário e o diferencial tem aumentado, um sinal de crescimento económico e de diminuição da probabilidade de recessão económica. Além disso, a economia norte-americana permanece resiliente, alicerçada num robusto mercado de trabalho. Os pedidos de subsídio de desemprego semanais nos EUA foram de apenas 166 mil na semana encerrada a 2 de abril, o número mais baixo desde 30 de novembro de 1968.


Em suma, o spread 10 anos/ 3 meses é uma previsão de recessão mais precisa, mas mais ‘lag’. Enquanto, o spread 10 anos/ 2 anos é mais leading indicator, mas para um prazo mais longo e talvez não tão fiável, e a sua validade será tanto maior quanto mais tempo permanecer negativa.



PMR In JE 7 de abril de 2022




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.