Restrições à circulação de
pessoas, devido à Covid-19, têm penalizado as economias. Para ultrapassar as
recentes dificuldades económicas, com maior impacto em Itália e em Espanha,
muitos países membros da União Europeia esperavam que fosse emitida dívida conjunta
para financiar os setores mais afetados, as propaladas eurobonds, agora com um
objetivo definido e apelidadas de coronabonds. A Zona Euro como um todo seria
responsável pela emissão.
Mas as coronabonds não avançaram, e os spreads relativamente à divida alemã têm aumentado. A yield alemã a 10 anos está nos -0,46%, a francesa encontra-se nos 0,05% e a portuguesa nos 0,96%. A rentabilidade das obrigações italianas, a l0 anos, apresenta um valor relativamente mais elevado, nos 1,9%, a espelhar um maior risco atribuído à dívida transalpina.
Os spreads vinham a agravar-se desde o início do surto virai na Europa, e agudizaram-se quando Christine Lagarde anunciou um programa de aquisição de obrigações no montante de 750 mil milhões de euros, mas com limitações nas ajudas.
Mais tarde, a presidente do BCE garantiu que o banco central desativaria temporariamente, neste momento de crise sanitária, os limites de um terço impostos à detenção pelo banco central da zona euro de títulos do tesouro de um determinado estado membro, facto que permitiu às obrigações soberanas dos países soberanos respirar e valorizar, com a descida da respetiva yield.
Mas as eurobonds, na reunião do Eurogrupo, acabaram por ficar na gaveta, apesar de um acordo razoável, e os spreads das yields dos países mediterrânicos relativamente à dívida alemã voltaram a alargar...
A deterioração das taxas de juro, e consequente aumento de custos, temse refletido nas emissões realizadas por Portugal no último mês. O Estado português obteve, esta quarta-feira 1250 milhões de euros através de dois leilões de títulos de dívida de curto prazo. Nos bilhetes do tesouro a três meses, o IGCP obteve 410 milhões de euros, a uma taxa de juro de -0,009%. A taxa anterior comparável havia sido de -0,5%, verificada no leilão de fevereiro.
Ali meses, Portugal teve de pagar uma taxa de juro de 0,038%, algo que não acontecia desde setembro de 2016, para se financiar em 840 milhões de euros, quando no último leilão comparável, realizado em fevereiro, a taxa foi de -0,484%.
A emissão de obrigações pela União Europeia precisa de um orçamento europeu mais robusto como garantia, e não os atuais 1 %, ou de um imposto específico como colateral da emissão. Caso contrário, seria a Alemanha, o país mais musculado economicamente, o garante das eurobonds. Algo que não agrada aos eleitorados do norte da Europa. Contudo, os eleitores do Europa meridional, mais especificamente os italianos, também têm dificuldade em perceber o recuo na emissão de eurobonds. As coronabonds evitariam sobrecarregar o montante da dívida portuguesa, passando a responsabilidade para os países mais ricos.
Sem emissão conjunta, as agências de ratings ficam mais pressionadas para reverem em baixa as classificações de Portugal, Espanha e Itália.
Paulo Rosa, Vida Económica, 17 de abril 2020
Mas as coronabonds não avançaram, e os spreads relativamente à divida alemã têm aumentado. A yield alemã a 10 anos está nos -0,46%, a francesa encontra-se nos 0,05% e a portuguesa nos 0,96%. A rentabilidade das obrigações italianas, a l0 anos, apresenta um valor relativamente mais elevado, nos 1,9%, a espelhar um maior risco atribuído à dívida transalpina.
Os spreads vinham a agravar-se desde o início do surto virai na Europa, e agudizaram-se quando Christine Lagarde anunciou um programa de aquisição de obrigações no montante de 750 mil milhões de euros, mas com limitações nas ajudas.
Mais tarde, a presidente do BCE garantiu que o banco central desativaria temporariamente, neste momento de crise sanitária, os limites de um terço impostos à detenção pelo banco central da zona euro de títulos do tesouro de um determinado estado membro, facto que permitiu às obrigações soberanas dos países soberanos respirar e valorizar, com a descida da respetiva yield.
Mas as eurobonds, na reunião do Eurogrupo, acabaram por ficar na gaveta, apesar de um acordo razoável, e os spreads das yields dos países mediterrânicos relativamente à dívida alemã voltaram a alargar...
A deterioração das taxas de juro, e consequente aumento de custos, temse refletido nas emissões realizadas por Portugal no último mês. O Estado português obteve, esta quarta-feira 1250 milhões de euros através de dois leilões de títulos de dívida de curto prazo. Nos bilhetes do tesouro a três meses, o IGCP obteve 410 milhões de euros, a uma taxa de juro de -0,009%. A taxa anterior comparável havia sido de -0,5%, verificada no leilão de fevereiro.
Ali meses, Portugal teve de pagar uma taxa de juro de 0,038%, algo que não acontecia desde setembro de 2016, para se financiar em 840 milhões de euros, quando no último leilão comparável, realizado em fevereiro, a taxa foi de -0,484%.
A emissão de obrigações pela União Europeia precisa de um orçamento europeu mais robusto como garantia, e não os atuais 1 %, ou de um imposto específico como colateral da emissão. Caso contrário, seria a Alemanha, o país mais musculado economicamente, o garante das eurobonds. Algo que não agrada aos eleitorados do norte da Europa. Contudo, os eleitores do Europa meridional, mais especificamente os italianos, também têm dificuldade em perceber o recuo na emissão de eurobonds. As coronabonds evitariam sobrecarregar o montante da dívida portuguesa, passando a responsabilidade para os países mais ricos.
Sem emissão conjunta, as agências de ratings ficam mais pressionadas para reverem em baixa as classificações de Portugal, Espanha e Itália.
Paulo Rosa, Vida Económica, 17 de abril 2020
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