Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Coronabonds

Restrições à circulação de pessoas, devido à Covid-19, têm penalizado as economias. Para ultrapassar as recentes dificuldades económicas, com maior impacto em Itália e em Espanha, muitos países membros da União Europeia esperavam que fosse emitida dívida conjunta para financiar os setores mais afetados, as propaladas eurobonds, agora com um objetivo definido e apelidadas de coronabonds. A Zona Euro como um todo seria responsável pela emissão.

Mas as coronabonds não avançaram, e os spreads relativamente à divida alemã têm aumentado. A yield alemã a 10 anos está nos -0,46%, a francesa encontra-se nos 0,05% e a portuguesa nos 0,96%. A rentabilidade das obrigações italianas, a l0 anos, apresenta um valor relativamente mais elevado, nos 1,9%, a espelhar um maior risco atribuído à dívida transalpina.

Os spreads vinham a agravar-se desde o início do surto virai na Europa, e agudizaram-se quando Christine Lagarde anunciou um programa de aquisição de obrigações no montante de 750 mil milhões de euros, mas com limitações nas ajudas.

Mais tarde, a presidente do BCE garantiu que o banco central desativaria temporariamente, neste momento de crise sanitária, os limites de um terço impostos à detenção pelo banco central da zona euro de títulos do tesouro de um determinado estado membro, facto que permitiu às obrigações soberanas dos países soberanos respirar e valorizar, com a descida da respetiva yield.

Mas as eurobonds, na reunião do Eurogrupo, acabaram por ficar na gaveta, apesar de um acordo razoável, e os spreads das yields dos países mediterrânicos relativamente à dívida alemã voltaram a alargar...

A deterioração das taxas de juro, e consequente aumento de custos, temse refletido nas emissões realizadas por Portugal no último mês. O Estado português obteve, esta quarta-feira 1250 milhões de euros através de dois leilões de títulos de dívida de curto prazo. Nos bilhetes do tesouro a três meses, o IGCP obteve 410 milhões de euros, a uma taxa de juro de -0,009%. A taxa anterior comparável havia sido de -0,5%, verificada no leilão de fevereiro.

Ali meses, Portugal teve de pagar uma taxa de juro de 0,038%, algo que não acontecia desde setembro de 2016, para se financiar em 840 milhões de euros, quando no último leilão comparável, realizado em fevereiro, a taxa foi de -0,484%.

A emissão de obrigações pela União Europeia precisa de um orçamento europeu mais robusto como garantia, e não os atuais 1 %, ou de um imposto específico como colateral da emissão. Caso contrário, seria a Alemanha, o país mais musculado economicamente, o garante das eurobonds. Algo que não agrada aos eleitorados do norte da Europa. Contudo, os eleitores do Europa meridional, mais especificamente os italianos, também têm dificuldade em perceber o recuo na emissão de eurobonds. As coronabonds evitariam sobrecarregar o montante da dívida portuguesa, passando a responsabilidade para os países mais ricos.

Sem emissão conjunta, as agências de ratings ficam mais pressionadas para reverem em baixa as classificações de Portugal, Espanha e Itália. 

Paulo Rosa, Vida Económica, 17 de abril 2020



Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.