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sexta-feira, 7 de maio de 2021

A economia circular

A frase do químico francês Antoine-Laurent de Lavoisier, “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, adequa-se plenamente à crescente importância da economia circular e à aceleração da economia ‘zero desperdício’. A economia circular representa um dos principais meios para a sustentabilidade do planeta, bem como uma enorme oportunidade de mercado. Todavia, há uma dessincronização entre as multinacionais que lutam para acompanhar a inovação circular e os empreendedores que não têm recursos para crescer. A economia circular está lentamente a unir as duas partes para promover a agenda de desperdício zero.

No início de 2021, as empresas enfrentam uma matriz complexa de desafios - desde o aumento das tensões geoeconómicas, até à urgência das alterações climáticas. Com menos de dez anos para atingir os objetivos de ‘Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas’ (ODS), a atual década é crucial para a sustentabilidade do planeta e os líderes mundiais gradualmente agem na prossecução desse objetivo. A transição para um modelo económico circular global é fundamental para reduzir a degradação ambiental e priorizar a biodiversidade e a natureza, ao mesmo tempo que proporciona competitividade futura. Numa economia circular, o desperdício é eliminado e os produtos são devolvidos ao sistema de produção no final da sua utilização. Consequentemente, o crescimento é ‘desligado’ o mais possível do consumo de recursos escassos e os materiais são mantidos em utilização no sistema produtivo pelo maior tempo possível.

A economia circular representa uma oportunidade de mercado única de mais de 4,5 biliões de dólares até 2030, de acordo com a Accenture Strategy em 2015, atualmente cerca de 5% do PIB mundial anual. A aceleração dessa transição depende da adoção de novos modelos de negócio inovadores e dos avanços tecnológicos disruptivos. Juntamente com a priorização de novos modelos de negócio, que agora respondem por cerca de 30% do investimento em M&A (Fusões e Aquisições) de acordo com a análise da Accenture em outubro de 2020, a adoção de novas tecnologias digitais, físicas e biológicas pode gerar novas oportunidades e entregar o triplo do resultado financeiro das grandes empresas. Hoje, as grandes multinacionais com cadeias de abastecimentos e processos cada vez mais complexos podem esforçar-se pela inovação circular, mas às vezes podem faltar os recursos necessários para abraçar novos modos na transição para negócios circulares. Todavia, e em contraste, os empreendedores têm as soluções disruptivas para resolver esses desafios, mas podem não ter capital ou recursos para replicar as suas soluções.

Uma iniciativa da Accenture, o ‘Circulars Accelerator’, agiliza a conexão entre as multinacionais e os empreendedores. As partes interessadas em toda a cadeia de valor têm o poder de abraçar totalmente a inovação e mutuamente beneficiar de inovação colaborativa e alianças estratégicas. As ‘startups’ são classificadas num dos três tipos de solução necessários para a transformação circular, que juntos abrangem toda a cadeia de valor e respondem a desafios circulares específicos: 1) Produção inovadora que cria e fornece produtos, embalagens e soluções pioneiras. Por exemplo, a StixFresh na Malásia tem um adesivo 100% vegetal que aumenta a vida útil dos produtos frescos até 14 dias, e de acordo com a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura) das Nações Unidas, um terço dos alimentos vão para o lixo. 2) O consumo da transformação. Atualmente, e de acordo com o Fórum Económico Mundial, consumimos 1,75 vezes mais recursos a cada ano do que a Terra pode regenerar naturalmente. Gradualmente aparecem novos modelos de consumo circular, incluindo a extensão da utilização do produto (reparação, mercados secundários), embalagens reutilizáveis e plataformas de partilha. 3) Recuperação de valor. Este ‘cluster’ prioriza soluções que fecham o ciclo no atual sistema linear existente, “take, make, waste” (“retirar, fazer, desperdiçar”). Este grupo de inovadores cria novas maneiras que permitem a reutilização de produtos e a recuperação do valor existente nos resíduos ou produtos em fim de utilização.

Paulo Rosa, 23 de abril de 2021, Vida Económica



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.