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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Juro nominal e Inflação correlacionados?

No início do séc. XX, o economista Irving Fisher referiu que, no longo prazo, a taxa de juro nominal é determinada aproximadamente pela soma da taxa de juro real e da taxa de inflação esperada (i r+ π e). Essa relação pressupõe que a taxa de juro real é uma variável independente da política monetária e é definida por forças económicas reais (investimento, poupança, consumo, desemprego, crescimento económico), e a taxa de juro nominal e taxa de inflação são variáveis determinadas pela política monetária. Assim, a taxa de inflação esperada tem uma relação causal unidirecional com a taxa de juro nominal, ou seja, uma taxa de inflação esperada mais alta resultará num aumento da taxa de juro nominal, e consequente abrandamento económico.

Perante taxas de juro de zero, as expectativas de inflação começam a cair e o efeito keynesiano usual, estimular a economia com descida das taxas de juro e dinheiro barato para impulsionar o crescimento económico e a inflação, passa a ser dominado pelo efeito “neo-fisheriano”, adotado por vários economistas nos últimos anos para justificarem a baixa inflação apesar de cortes sucessivos nas taxas de juro nominais. O tradicional efeito Fisher - pelo qual a inflação acompanha a taxa de juro nominal por um fator de um para um – deve ocorrer apenas no longo prazo, e um efeito fisheriano não acontecerá se as expectativas de inflação permanecerem bem ancoradas em valores elevados, mas, na realidade, assim que as taxas de juro nominais dos bancos centrais descem para valores de zero ou perto dele, as expectativas para a inflação começam a cair, e a relação implica simplesmente que a taxa de inflação esperada passe a ser igual ao valor inverso da taxa de juro real (se a taxa de juro nominal é igual a 0% e a taxa de juro real de 0.1%, então espera-se deflação de -0.1%). Se não é racional a existência de taxas de juros reais negativas ou de zero porque ninguém está disposto a pagar para adiar o consumo, qualquer taxa de juro nominal negativa deverá ser acompanhada, mais cedo ou mais tarde, por uma taxa de inflação esperada negativa.

Os bancos centrais podem cortar as taxas nominais para zero ou para território negativo o quanto quiserem, mas as taxas de juro reais permanecerão inalteradas, porque quem difere no tempo o consumo quer ser remunerado. Quanto mais keynesiano um banco central age, tentando estimular a procura por meio de cortes nas taxas de juro nominais, mais fisheriana se torna a economia, pelo menos em termos de expectativas de inflação. E a política monetária torna-se impotente… De acordo com o efeito “neo-fisheriano”, a solução para criar inflação nesse contexto é aumentar a taxa de juro nominal.

Em 1923 o economista britânico Alfred Gibson baseado na evidência empírica de longo prazo, entre 1730 e 1930, verificou uma correlação positiva entre as rentabilidades das obrigações do tesouro britânico e o nível de geral de preços, mais tarde batizado por Keynes como o paradoxo de Gibson. De acordo com o paradoxo de Gibson, a correlação entre taxas de juros e preços era um fenómeno impulsionado pelo mercado, que dificilmente existirá quando as taxas de juros estão ligadas à inflação por meio da intervenção dos bancos centrais. Durante o período estudado por Gibson, as taxas de juros foram definidas pela relação natural entre poupadores e tomadores de empréstimo para equilibrar oferta e procura. Todavia, nos últimos anos, e nas economias desenvolvidas, voltámos a observar uma relação entre as taxas de juro nominais baixas ou negativas e a inflação em mínimos ou mesmo negativa. Estará o paradoxo de Gibson de regresso? Explicará a atual situação de baixa inflação perante taxas de juros nominais de zero?

Se os juros que remuneram o dinheiro são zero e os juros sobre os títulos ou empréstimos são quase zero, as pessoas preferem manter dinheiro (liquidez) e não correr o risco de o emprestar. Consequentemente, o banco central perde o controle sobre a política monetária porque um aumento na oferta de moeda não se traduz na subida do nível de preços. Esta é a armadilha da liquidez referida por Hicks e por Keynes e que atualmente se observa.

Paulo Monteiro Rosa, 1 de outubro de 2020, In VE


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.