No início do séc.
XX, o economista Irving Fisher referiu que, no longo prazo, a taxa de juro
nominal é determinada aproximadamente pela soma da taxa de juro real e da taxa
de inflação esperada (i ≅
r+ π e). Essa relação pressupõe que a taxa de juro real é uma variável
independente da política monetária e é
definida por forças económicas reais (investimento, poupança, consumo,
desemprego, crescimento económico), e a taxa de juro nominal e taxa de inflação
são variáveis determinadas pela política monetária. Assim, a taxa de inflação
esperada tem uma relação causal unidirecional com a taxa de juro nominal, ou
seja, uma taxa de inflação esperada mais alta resultará num aumento da taxa de
juro nominal, e consequente abrandamento económico.
Perante taxas de juro de zero, as expectativas de inflação começam a cair e o
efeito keynesiano usual, estimular a economia com descida das taxas de juro e
dinheiro barato para impulsionar o crescimento económico e a inflação, passa a
ser dominado pelo efeito “neo-fisheriano”, adotado por vários economistas nos
últimos anos para justificarem a baixa inflação apesar de cortes sucessivos nas
taxas de juro nominais. O tradicional efeito Fisher - pelo qual a inflação
acompanha a taxa de juro nominal por um fator de um para um – deve ocorrer
apenas no longo prazo, e um efeito fisheriano não acontecerá se as expectativas
de inflação permanecerem bem ancoradas em valores elevados, mas, na realidade,
assim que as taxas de juro nominais dos bancos centrais descem para valores de
zero ou perto dele, as expectativas para a inflação começam a cair, e a relação
implica simplesmente que a taxa de inflação esperada passe a ser igual ao valor
inverso da taxa de juro real (se a taxa de juro nominal é igual a 0% e a taxa
de juro real de 0.1%, então espera-se deflação de -0.1%). Se não é racional a
existência de taxas de juros reais negativas ou de zero porque ninguém está
disposto a pagar para adiar o consumo, qualquer taxa de juro nominal negativa
deverá ser acompanhada, mais cedo ou mais tarde, por uma taxa de inflação
esperada negativa.
Os bancos centrais podem cortar as taxas nominais para zero ou para território
negativo o quanto quiserem, mas as taxas de juro reais permanecerão
inalteradas, porque quem difere no tempo o consumo quer ser remunerado. Quanto
mais keynesiano um banco central age, tentando estimular a procura por meio de
cortes nas taxas de juro nominais, mais fisheriana se torna a economia, pelo
menos em termos de expectativas de inflação. E a política monetária torna-se
impotente… De acordo com o efeito “neo-fisheriano”, a solução para criar
inflação nesse contexto é aumentar a taxa de juro nominal.
Em 1923 o economista britânico Alfred Gibson baseado na evidência empírica de
longo prazo, entre 1730 e 1930, verificou uma correlação positiva entre as
rentabilidades das obrigações do tesouro britânico e o nível de geral de
preços, mais tarde batizado por Keynes como o paradoxo de Gibson. De acordo com
o paradoxo de Gibson, a correlação entre taxas de juros e preços era um
fenómeno impulsionado pelo mercado, que dificilmente existirá quando as taxas
de juros estão ligadas à inflação por meio da intervenção dos bancos centrais.
Durante o período estudado por Gibson, as taxas de juros foram definidas pela
relação natural entre poupadores e tomadores de empréstimo para equilibrar
oferta e procura. Todavia, nos últimos anos, e nas economias desenvolvidas,
voltámos a observar uma relação entre as taxas de juro nominais baixas ou
negativas e a inflação em mínimos ou mesmo negativa. Estará o paradoxo de
Gibson de regresso? Explicará a atual situação de baixa inflação perante taxas
de juros nominais de zero?
Se os juros que remuneram o dinheiro são zero e os juros sobre os títulos ou
empréstimos são quase zero, as pessoas preferem manter dinheiro (liquidez) e
não correr o risco de o emprestar. Consequentemente, o banco central perde o
controle sobre a política monetária porque um aumento na oferta de moeda não se
traduz na subida do nível de preços. Esta é a armadilha da liquidez referida
por Hicks e por Keynes e que atualmente se observa.
Paulo Monteiro Rosa, 1 de outubro de 2020, In VE
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 7 de maio de 2021
Juro nominal e Inflação correlacionados?
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