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sexta-feira, 7 de maio de 2021

No futuro, todos seremos Japão?

Segundo a Teoria Monetária Moderna (MMT), enquanto um governo puder pagar a sua dívida na sua própria moeda, não há limites para os défices orçamentais em que pode incorrer. O Japão é um exemplo paradigmático, não tem inflação, mesmo com o crescente défice orçamental, ano após ano, e o saldo da dívida soberana já ultrapassa os 200% do PIB.

O setor empresarial privado passou de um défice de fundos para um excesso de poupança na segunda metade da década de 1990, uma condição que tem continuado desde então. Na mesma época, o governo caiu num círculo vicioso de défice de fundos, com sucessivos défices orçamentais, e essa condição tornou-se persistente.

A crise financeira de 1997-98 alterou a visão dos empresários sobre as perspetivas de crescimento da economia japonesa. Eles tornaram-se mais cautelosos nos investimentos de capital. Como consequência, o receio de uma contração económica devido a uma escassez da procura, nomeadamente devido ao excesso de poupança nos setores doméstico e empresarial privado combinados, passou a ser compensada por sucessivos défices orçamentais em que o setor governamental passou a incorrer para impulsionar o crescimento, prática que se tornou habitual até hoje. Risco premente de inflação galopante? A hiperinflação ocorre quando a população rejeita a moeda, todavia as poupanças dos japoneses são em ienes.

O excedente da balança corrente do Japão significa que o país realiza investimentos no exterior, o que alivia parcialmente o excesso de fundos internos. No entanto, isso também aumenta a fragilidade da economia nipónica, mais vulnerável a crises mundiais e à variação da procura externa e das exportações. A economia alemã tem um comportamento semelhante.

Enquanto estas economias forem suficientemente pujantes para suportar as suas populações cada vez mais envelhecidas, o problema não se agravará. Todavia, o peso da população idosa na população ativa é já de 47% no Japão e 35% na Alemanha, comparado com 35% e 28%, respetivamente, há 10 anos. Enquanto as suas empresas, Sony, Toyota, Mitsubishi, Volkswagen, Siemens e Bosch forem grandes, eficientes exportadoras e estiverem nas mãos de nacionais, a população nipónica e germânica, provavelmente, continuará a usufruir de um elevado nível de vida.

Embora as taxas de juros do Japão sejam efetivamente zero desde 1995, devemo-nos perguntar o que significa "normalização". Certamente, após esse período de tempo, as taxas de juros zero são "normais". Isso, em poucas palavras, é o problema do Japão. Após um período tão extenso, as expectativas de inflação zero e taxas de juros zero estão firmemente arraigadas na população. Qualquer pessoa com menos de 40 anos nunca conheceu outra coisa.

Quando os preços começam a subir, o cidadão japonês corta nos gastos. Portanto, as empresas não aumentam os preços e, como não querem estreitar as margens de lucro, também não aumentam os salários. O rendimento de um cidadão japonês permanece estagnado, logo hipersensível aos aumentos de preços. Muitos pedem ao governo japonês para aumentar impostos e "tornar a sua dívida sustentável". A última vez que o executivo nipónico tentou elevar os impostos sobre as vendas, o cidadão japonês cortou os gastos com tanta força que empurrou a economia para a recessão.

O governo japonês continuará a emitir dívida para sustentar o hábito de poupança da população nipónica, o Banco do Japão continuará a monetizar essa dívida e as taxas de juros e a inflação permanecerão a zero ou negativas. O verdadeiro problema do Japão não é sua dívida, mas a sua demografia. Também parece ser o destino final de outras economias com populações que envelhecem rapidamente, como a Alemanha, a China e a Coreia do Sul. E embora a população dos EUA seja atualmente mais jovem, reprimir a imigração acelerará o envelhecimento.

Será o Japão um “Leading Indicator” fidedigno? Em suma, a continuar assim, provavelmente, no futuro, todos seremos o Japão… mais especificamente nas economias desenvolvidas.
Paulo Monteiro Rosa, 8 de outubro de 2020, In VE


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.