Segundo a Teoria
Monetária Moderna (MMT), enquanto um governo puder pagar a sua dívida na sua
própria moeda, não há limites para os défices orçamentais em que pode incorrer.
O Japão é um exemplo paradigmático, não tem inflação, mesmo com o crescente
défice orçamental, ano após ano, e o saldo da dívida soberana já ultrapassa os
200% do PIB.
O setor
empresarial privado passou de um défice de fundos para um excesso de poupança
na segunda metade da década de 1990, uma condição que tem continuado desde
então. Na mesma época, o governo caiu num círculo vicioso de défice de fundos,
com sucessivos défices orçamentais, e essa condição tornou-se persistente.
A crise financeira
de 1997-98 alterou a visão dos empresários sobre as perspetivas de crescimento
da economia japonesa. Eles tornaram-se mais cautelosos nos investimentos de
capital. Como consequência, o receio de uma contração económica devido a uma
escassez da procura, nomeadamente devido ao excesso de poupança nos setores
doméstico e empresarial privado combinados, passou a ser compensada por
sucessivos défices orçamentais em que o setor governamental passou a incorrer
para impulsionar o crescimento, prática que se tornou habitual até hoje. Risco
premente de inflação galopante? A hiperinflação ocorre quando a população
rejeita a moeda, todavia as poupanças dos japoneses são em ienes.
O excedente da
balança corrente do Japão significa que o país realiza investimentos no
exterior, o que alivia parcialmente o excesso de fundos internos. No entanto,
isso também aumenta a fragilidade da economia nipónica, mais vulnerável a
crises mundiais e à variação da procura externa e das exportações. A economia
alemã tem um comportamento semelhante.
Enquanto estas
economias forem suficientemente pujantes para suportar as suas populações cada
vez mais envelhecidas, o problema não se agravará. Todavia, o peso da população
idosa na população ativa é já de 47% no Japão e 35% na Alemanha, comparado com
35% e 28%, respetivamente, há 10 anos. Enquanto as suas empresas, Sony, Toyota,
Mitsubishi, Volkswagen, Siemens e Bosch forem grandes, eficientes exportadoras
e estiverem nas mãos de nacionais, a população nipónica e germânica,
provavelmente, continuará a usufruir de um elevado nível de vida.
Embora as taxas de
juros do Japão sejam efetivamente zero desde 1995, devemo-nos perguntar o que
significa "normalização". Certamente, após esse período de tempo, as
taxas de juros zero são "normais". Isso, em poucas palavras, é o
problema do Japão. Após um período tão extenso, as expectativas de inflação
zero e taxas de juros zero estão firmemente arraigadas na população. Qualquer
pessoa com menos de 40 anos nunca conheceu outra coisa.
Quando os preços
começam a subir, o cidadão japonês corta nos gastos. Portanto, as empresas não
aumentam os preços e, como não querem estreitar as margens de lucro, também não
aumentam os salários. O rendimento de um cidadão japonês permanece estagnado,
logo hipersensível aos aumentos de preços. Muitos pedem ao governo japonês para
aumentar impostos e "tornar a sua dívida sustentável". A última vez
que o executivo nipónico tentou elevar os impostos sobre as vendas, o cidadão
japonês cortou os gastos com tanta força que empurrou a economia para a
recessão.
O governo japonês
continuará a emitir dívida para sustentar o hábito de poupança da população
nipónica, o Banco do Japão continuará a monetizar essa dívida e as taxas de
juros e a inflação permanecerão a zero ou negativas. O verdadeiro problema do
Japão não é sua dívida, mas a sua demografia. Também parece ser o destino final
de outras economias com populações que envelhecem rapidamente, como a Alemanha,
a China e a Coreia do Sul. E embora a população dos EUA seja atualmente mais
jovem, reprimir a imigração acelerará o envelhecimento.
Será o Japão um
“Leading Indicator” fidedigno? Em suma, a continuar assim, provavelmente, no
futuro, todos seremos o Japão… mais especificamente nas economias
desenvolvidas.
Paulo Monteiro Rosa, 8 de outubro de 2020, In VE
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 7 de maio de 2021
No futuro, todos seremos Japão?
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