O ser humano trabalha para poder consumir e satisfazer os seus
gastos presentes e futuros. Produzimos para consumir. Portanto, somos
produtores e consumidores simultaneamente. Se alguém consome primeiro através
do recurso ao crédito é porque, muito provavelmente, tem capacidade para honrar
os seus compromissos e é detentor de bens, resultado do trabalho acumulado, que
suportam esse crédito. A lei de Say refere que produzimos um determinado bem ou
serviço, para podermos consumir os bens e serviços produzidos pelos outros
agentes económicos. O meio que facilita todas essas atividades de troca de bens
e serviços é o dinheiro, que efetivamente representa o trabalho armazenado, e a
divisão do trabalho permite a especialização e o crescimento económico. A raiz
da troca não é o dinheiro, mas ele facilita consideravelmente as comparações de
valor entre bens.
A oferta de capital vem da poupança dos consumidores, juntamente
com o dinheiro reservado para esse fim pelos próprios produtores. O preço do
crédito, baseado na poupança de alguém, é a taxa de juro e está alicerçada nas
preferências temporais, entre quem adia e quem antecipa o consumo, e no risco
de perda de capital.
Ninguém está disposto a sacrificar uma unidade de consumo agora
por menos de uma unidade no futuro, ou seja, ter uma preferência temporal
negativa, espelhada em juros negativos. Obviamente, existem pessoas que não
conseguem consumir todo o seu rendimento disponível, mas investem no mercado
imobiliário, no mercado de capitais, ou os mais empreendedores criam uma
empresa, sempre com o intuito de obter um acréscimo de dinheiro, não emprestam
com juros negativos para receber menos dinheiro. As preferências temporais são
positivas, ou seja, só é racional existirem taxas de juro reais positivas.
Se os preços dos bens estão a aumentar ou se se espera que venham
a subir, então as preferências temporais aumentam e o presente sobrepõem-se ao
futuro. O produtor irá aumentar a sua preferência temporal na expectativa de
preços finais mais elevados para a sua produção, devido à esperada subida da
inflação. Os consumidores também aumentam a sua preferência temporal para
consumirem mais bens no presente porque no futuro podem estar mais caros. O
aumento da procura de dinheiro e a diminuição do stock de moeda traduzem-se na
subida da taxa de juro.
Analogamente, se a previsão para o comportamento dos preços é de
queda, haverá menos incentivo para aumentar a produção ou consumir mais no
presente, porque poderemos fazê-lo mais tarde sem existir o risco de pressões
inflacionistas, logo as preferências temporais caem, ou seja, as taxas de juro
descem, pelo excesso de stock de moeda e retração da procura.
É por isso que as taxas de juros se correlacionam positivamente
com o nível de preços. Grosso modo, o juro é o preço do tempo. A taxa de juro é
refletida pelas preferências temporais e o aumento da mesma representa uma
subida do juro.
Irving Fisher refere que, no longo prazo, a taxa de juro nominal é
dada, aproximadamente, pela soma entre a taxa de juro real e a inflação
esperada. Ou seja, se a expectativa for de subida de preços, então a taxa de
juro aumentará também. Se a previsão for de descida de preços, a taxa de juro
tenderá a cair. Países com elevada inflação têm altas taxas de juro, e
vice-versa, e é também uma forma de os agentes económicos se protegerem contra
a inflação.
Um indivíduo mais velho pode ter uma preferência temporal menor,
em relação à que tinha quando era novo, devido a um rendimento mais elevado e
ao facto de ter tido mais tempo para adquirir bens duradouros como uma casa e
um carro. Por isso, o envelhecimento da população nos países desenvolvidos,
mais vincado no Japão e na Alemanha, pode ser uma das razões para as baixas
taxas de juro e de inflação.
Paulo Rosa, 13 de novembro de 2020, VE
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