Os países membros
da OPEP + estão à beira de uma crise financeira se as últimas avaliações do
Fundo Monetário Internacional (FMI) estiverem corretas. O FMI apresentou uma
perspetiva dececionante para a recuperação económica no Médio Oriente e na Ásia
Central, prevendo uma contração de 4.1% para a região penalizada pela
permanência dos preços do petróleo entre os 40 e os 50 dólares por barril em
2021. Uma extensão do atual ambiente de preços baixos do petróleo por mais um
ano penalizaria significativamente os países exportadores de petróleo e gás, o
que inclui todos dos membros da OPEP +, alguns com os custos de extração
próximos das atuais cotações.
De salientar que
em abril, o FMI previa uma contração económica de 2.8% para o Médio Oriente e
Ásia Central. Uma grande parte dos orçamentos governamentais dos estados
membros da OPEP depende das receitas relacionadas com o petróleo e o gás. Como
tal, todos os países da OPEP enfrentam consideráveis défices orçamentais,
especialmente a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein, o Iraque,
o Irã e o Kuwait. O ex-membro da OPEP, o Qatar, está numa situação semelhante,
e está a tentar mitigar os danos aumentando as exportações de GNL (Gás natural
liquefeito). Atualmente, os preços do petróleo Brent ainda estão 40% abaixo dos
níveis pré-Covid.
Há pouca esperança
de um aumento significativo dos preços no curto prazo, porque os volumes
globais de armazenamento de petróleo e gás ainda estão em níveis historicamente
elevados e a procura parece destinada a cair novamente devido a novos
confinamentos relacionados com a pandemia de Covid-19 que poderá acarretar uma
nova recessão económica. O preço de equilíbrio frequentemente citado para o
orçamento do governo saudita é de 80 dólares por barril, embora as discussões
se centrem em torno dos 50 dólares. O Iraque também afirmou que espera níveis
de preços de 50 dólares por barril para 2021. Essas previsões otimistas parecem
basear-se apenas nos dados económicos chineses pós-Covid. Todavia, a China
precisa de um mercado global robusto para escoar parte da sua produção. O
impacto da segunda vaga de casos de Covid na Europa e na América,
provavelmente, penalizará essa procura por produtos chineses.
Alguns produtores
de petróleo e gás já estavam numa débil situação financeira antes da Covid,
incluindo a Líbia e a Venezuela. O grande e persistente “contango” do mercado
de petróleo continua, com os preços para entrega imediata ou nos prazos mais
curtos inferiores aos preços para os prazos mais longos, a espelhar o excesso
de armazenamento. A OPEP e a AIE (Associação Internacional de Energia)
concordam que a procura ainda é incipiente, tendo ambas cortado as previsões da
procura mundial de petróleo. A IEA reduziu a previsão para 91.7 milhões de
barris por dia este ano, enquanto a OPEP baixou para 90.2 milhões em 2020. A
OPEP reiterou que cortes futuros ainda podem ser feitos. De realçar, que em
2019 a procura mundial foi pela primeira vez superior a 100 milhões de barris
diários. Voltará a esses níveis? Provavelmente não, se depender das crescentes
políticas ambientais sustentadas nas energias renováveis e espelhadas na ESG
(Environmental, Social, Governance)
Os membros da OPEP baseiam grande parte da sua estabilidade económica atual e futura nos hidrocarbonetos. Os cortes nos orçamentos governamentais podem desestabilizar a região se não forem feitos com prudência. As discussões no seio da OPEP + sobre a estabilização do mercado não se deveriam concentrar apenas nos níveis de preços ou de produção, mas na diversificação das suas economias. A verdadeira questão é como criar um mercado que seja suficientemente resiliente para lidar com os eventos de “Cisne Negro” como esta pandemia.
Contudo, os preços
baixos têm favorecido os países importadores, nomeadamente a Europa, que
consome significativamente e não produz, com exceção da Noruega e o Reino
Unido, e tem contribuído também para a baixa inflação.
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